A REPORTAGEM DO FANTÁSTICO, A MÁFIA DAS LICITAÇÕES E A "ÉTICA DE MERCADO" DOS CORRUPTOS

   
Por Fernando Lobato_Historiador

   A reportagem denúncia do Fantástico no último domingo  -acesse link abaixo para assistir- (18/03)  nos revelou dois fatos: um bem conhecido e outro nem tanto. O bem conhecido diz respeito à existência de uma máfia atuando no "mercado" das licitações fraudadas e o nem tanto diz respeito à "ética de mercado" que norteia a atuação da mesma. É isso mesmo! Trata-se de uma máfia que observa uma "ética" rigorosa e bem definida!
     Na "ética de mercado" dessa máfia, conforme palavras do presidente de uma das empresas fraudadoras, contratado e contratante devem manter laços de proteção mútua tal como as que se dá no seio famíliar, razão que o faz, inclusive, ensiná-la para os próprios filhos. Nessa "ética de mercado", é o contratante corrupto quem define o teto do valor a ser roubado do contribuinte, ou seja, 10, 15, 20 ou mais por cento em cima do preço final.
    Na "ética de mercado" da máfia das licitações, é também o contratante quem define o tipo de moeda em que receberá o valor roubado, podendo ser em real, dólar, euro ou, se assim preferir, iene (a moeda japonesa). Para traquilidade e comodidade dos gestores corruptos, 48 horas depois do pagamento superfaturado, os mesmos discretamente recebem a propina em caixas de uísque, vinho, etc.
    Na fala dos mafiosos que o Fantástico levou ao ar é comum ouvir expressões do tipo: "esse procedimento é normal!", "isso é de praxe!", "estamos acostumados com isso!", demonstrando que, em se tratando de compras por órgãos públicos, a regra é o roubo ou superfaturamento descarado, de forma que fiquei a me perguntar se, nesse país, alguma licitação não é fraudada.
   O Orçamento Federal, em 2012, foi orçado em R$ 1,6 trilhão. Pelo chutômetro, vamos considerar um gasto de R$ 500 bilhões em custeios e investimentos para, em seguida, aplicar o percentual que a "ética de mercado" dos corruptos considera de praxe ou usual, ou seja, 10%. E assim, chegamos ao montante de R$ 50 bilhões que serão surrupiados dos contribuintes ao longo desse ano. Essa soma daria, por exemplo, para construir três vezes todos os estádios da Copa de 2014 e ainda sobraria um "troco" pra fazer bastante coisa.
    Se considerarmos que a estimativa acima é totalmente descabida, consideremos então reduzí-la em 90%, ou seja, dando ao total um super descontaço. Todavia, ainda assim, teríamos a cifra astronômica de R$ 5 bilhões, ou seja, de um valor que daria para bancar, anualmente, a construção de metade dos estádios licitados pra 2014. Imagina qual é o valor anual surrupiado sabendo-se que, para além do cofre Federal, há ainda o cofre do DF, 27 cofres estaduais e mais 5.566 municipais que são objeto do mesmo roubo?.
    Afinal, em quanto fica essa conta bandida? E por falar em bandida, não posso deixar de destacar aqui a desenvoltura da loura gerente de uma das empresas fraudadoras flagradas em plena atuação. Demonstrando total consciência dos ilícitos que pratica rotineiramente e sem qualquer inibição ou desconforto, só faltou repetir a frase tantas vezes utilizada pela personagem Valéria do Zorra Total. Sua desenvoltura e espontaneidade comprova um outro fato que todos conhecemos: o paraíso dos corruptos e dos corruptores é aqui!

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