O Brasil, a FIFA e o grande legado da Copa

O grande legado da Copa no Brasil tem pouca relação com infraestrutura urbana e muita com a consciência popular de que sempre é preciso desconfiar da Classe Política e dos Governos

Por Fernando Lobato_Historiador



O mês de junho se aproxima e, junto com ele, o jogo de abertura da Copa do Mundo no Itaquerão – Arena do Corinthians, que ainda corre contra o tempo para estar em ordem para o jogo inaugural. Se a correria ainda é grande para concluir a construção de estádios, o que dizer então do legado de obras e infraestrutura tão propalado quando o Brasil foi anunciado como sede da Copa? Esse legado de obras e infraestrutura, como sabemos, foi progressivamente diminuído ou eliminado naquilo que poderia trazer benefícios para uma população que, mesmo sem ser consultada, bancou a quase totalidade do custo do evento. Mobilidade urbana, sobretudo, foi um dos itens que ficou para um depois que ninguém sabe quando ocorrerá.
As manifestações que encheram as ruas do Brasil em junho de 2013 deram um recado à classe política e aos governantes brasileiros. E esse recado ainda ecoa nos ares de nosso país. E o recado, ainda que nada tenha de ficcional, soa mais ou menos assim: “Nós sabemos o que vocês fizeram no verão e inverno de anos passados!”. “Nós sabemos que vocês continuam nos roubando e enganando de forma desavergonhada!”. “Nós sabemos que vocês, de forma maquiavélica, se aproveitaram da nossa paixão pelo futebol para nos dar um presente de grego”. “Nós sabemos que esses estádios faraônicos são, na verdade, grandes “cavalos de madeira” ocultando assaltantes travestidos de executivos em conluio com empreiteiras e grandes corporações privadas”.
O recado foi dado e a classe política e os governantes o entenderam muito bem. Não estão dispostos, todavia, a reconhecer os crimes cometidos! Estão obstinados no fingimento de que nada aconteceu em 2013. Que tudo não passou de uma grande alucinação coletiva a ser esquecida em face da pouca relevância. A relevância, insistem, está na festa do futebol que o país sediará daqui a menos de 60 dias. A sorte está lançada e, em junho próximo, saberemos qual será o nível de repúdio ao fingimento e cinismo oficial. O grande legado da Copa 2014 é algo totalmente imprevisto por seus planejadores, ou seja, a consciência popular de que governos existem para serem fiscalizados de perto. A consciência de que representantes, no gozo do poder delegado, não podem agir de forma autoritária e irresponsável. Essa consciência, sem dúvida alguma, será o GRANDE LEGADO DA COPA NO BRASIL! 

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