Maduro, Temer e a distância entre o Brasil e a Venezuela


Por Fernando Lobato_Historiador

Nicolás Maduro foi eleito presidente, em 2013, com mais de 7,58 milhões de votos dos venezuelanos (ver aqui), mas, tal como Hugo Chavez, foi sempre taxado de DITADOR pelos EUA e pela mídia neoliberal mundo afora. No Brasil, a direita (tanto a fascista quanto a neoliberal) trata CHAVISMO, BOLIVARIANISMO E COMUNISMO como palavras absolutamente sinônimas de outra palavra: o SATANISMO. Para os direitosos mais extremistas, Cristo não era apenas capitalista, mas também defensor radical do livre mercado e antimarxista de carteirinha tal como Ludwig Von Mises e Olavo de Carvalho (aquele que faz apologia do vício do fumo, do livre porte de armas e que vê a classe médica como um perigo à sociedade, talvez porque Che Guevara era médico e foi um dos grandes ícones do comunismo) – ver aqui. Para essa direita tresloucada da atualidade – que consegue vê sentido no que Trump e Bolsonaro jogam na nossa cara usando a boca - a HISTÓRIA - das cavernas ao 3° milênio - só faz sentido se considerarmos que a cobra que tentou Eva era discípula de Karl Marx. Quando os fatos desautorizam a versão que propagandeiam de forma histérica e grosseira, se viram nos 30 para criar outra versão que lhe seja favorável. Mas vamos aos fatos: Se Maduro já era DITADOR desde 2013, porque toda essa estridência acusatória de que na Venezuela se instalou uma DITADURA com a ELEIÇÃO DE UMA NOVA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE em 30 de julho de 2017?

Guiando-nos pelo discurso de nossos “paladinos da liberdade”, uma DITADURA se instala quando a DEMOCRACIA, ou seja, o desejo popular, não é respeitado pelo governante de plantão. Na Venezuela, sustentam, quase toda a população que ver Maduro fora do governo. Considerando verdadeira essa tese e usando esse mesmo parâmetro para o Brasil, constatamos que também vivemos sob uma cruel ditadura, visto que 95% dos brasileiros, segundo várias pesquisas, também querem Temer bem longe do Planalto (ver aqui). Nossa mídia parcial e neoliberal, todavia, não chama Temer de ditador. Não é apenas isso, protestarão nossos direitosos, alegando que uma ditadura se configura quando o mandante do Executivo controla tanto o Legislativo quanto o Judiciário e exerce o poder de forma arbitrária e pessoal. Maduro, de fato, com a decisão de hoje da Assembléia Constituinte, se livrou de um Legislativo hostil e passou a ter um que lhe apóia amplamente. É verdade também que o STF de lá tem sido quase sempre favorável a Maduro (ver aqui e aqui). Mas, se o caso é esse, mais uma vez constatamos que, no Brasil, a coisa não é diferente, visto que Temer é arbitrário a ponto de cometer, inclusive, crimes comuns no exercício do mandato (ver aqui). Além disso, controla o Legislativo negociando pessoalmente com deputados e fazendo uso descarado de nosso dinheiro (ver aqui). No STF, tem dois ministros que são mais obedientes que cães adestrados, sem contar mais quatro ou cinco que nunca votam contra o Executivo. Se a regra é essa, Temer é tão ou mais ditador que Maduro.

Falácia descarada, protestarão novamente os direitosos de plantão. O Brasil, diferente da Venezuela, tem Lava-jato, Sérgio Moro e um Ministério Público autônomo e atuante que está passando o Brasil a limpo. Na Venezuela, o Ministério Público foi anulado por Maduro com a destituição da procuradora-geral, que teve, inclusive, de fugir para a Colômbia (ver aqui). Nesse quesito, terei de concordar, o Brasil está um pouco a frente da Venezuela, pelo menos até o próximo mês, pois não custa lembrar que Janot, nosso procurador-geral – calcanhar de Aquiles de Temer - encerra seu mandato em setembro e sua sucessora, Raquel Dogde, chegou a cogitar ter sua posse realizada no Planalto. Pelo encontro fora da agenda com Temer (ver aqui) e pela disposição demonstrada, a gratidão da nova procuradora com sua escolha parece estar em sintonia com outra escolha: a de Alexandre de Moraes para o STF. Se Janot é carta fora do baralho depois de setembro, vale lembrar ainda que Moro é juiz de 1ª instância, ou seja, facilmente anulável na 2ª ou no STF. Quanto à Lava-jato, se não for destroçada pelo ministro Torquato (ver aqui), caminha para morrer de inanição por falta de verbas (ver aqui). Depois de setembro, portanto, pelos critérios dos próprios direitosos, não há mais como negarmos o fato de que vivemos sob uma pervertida ditadura temerária. Uma ditadura que, ao contrário da Venezuela, quer nos fazer ainda mais reféns do capitalismo globalizante. 



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