Introdução ao ABC da Política



Fernando Lobato_Historiador

Embora ninguém possa afirmar que não faz política, pois todos a praticamos o tempo todo, para muitos,  ela é um assunto desagradável e que não merece o mínimo de atenção. Tal posicionamento, na maioria dos casos, se fundamenta  numa concepção limitada ao nível da política institucional, ou seja, ao nível das relações de poder entre as corporações e instituições que formatam a  vida das pessoas em sociedade.

        Para além da política institucional, entretanto, há uma política do cotidiano que todos praticamos pelo simples fato de sermos da espécie humana, pois ninguém se torna humano sem se relacionar e interagir com outros humanos. É no convívio com outros humanos que vamos formando, pouco a pouco, as nossas percepções sobre a realidade e formatando atitudes e comportamentos no nosso dia a dia.

           Na política do cotidiano, as pessoas se relacionam de forma direta. Quando o jornal ou a TV noticiam algo sobre alguém de quem se tem um bom conhecimento pessoal, de forma quase  imediata, vem à mente as impressões que se tem sobre ela e, a partir delas, emitimos opiniões de forma mais natural.

       Na política do cotidiano, a nossa natureza humana aflora com muito mais intensidade e, em face disso, vamos descobrindo quem somos de verdade. No plano utópico, podemos imaginar um mundo onde as pessoas sempre se relacionassem de forma amável e fraterna. Nesse lugar, o respeito mútuo entre as pessoas seria algo tão natural quanto as flores que desabrocham num dia de primavera. 

      Nossa realidade não é assim porque nossa política do cotidiano está produndamente intoxicada pelo disputa de poder que caracteriza a  política institucional. Num grande número de situações, as pessoas, quer no ambiente familiar quer no público, agem não a partir daquilo que entendem como certo ou correto, mas a partir do que consideram mais conveniente.

      Na vida em sociedade, as pessoas são condicionadas a se preocupar mais com aquilo que podem perder do que com aquilo que podem ganhar. É esse condicionamento que faz a grande massa se conformar com uma realidade quase sempre cruel e injusta com ela mesma. Nela, muitos dizem: a realidade é assim mesmo, fazer o quê?

     Há sim muito o que se fazer quando a realidade é cruel ou injusta, mas requer atitude de quem está no prejuízo. Essa atitude, obviamente, para mudar a realidade, não pode partir de um, dois ou meia dúzia dos que se sentem prejudicados. Para ser vitoriosa, ela tem de ser massiva, ou seja, com o máximo de união possível dos que desejam a mudança, mas, para que isso aconteça, antes de tudo, é preciso existir uma coisa chamada CONSCIÊNCIA POLÍTICA. Sem ela, nada acontece e, por consequência, nada muda.

      A consciência política, entretanto, não surge do nada, ela é fruto da multiplicação de uma consciência que lhe é anterior, ou seja, da consciência de que somos humanos e nascemos para viver num mundo de paz, alegria e felicidade para todos. Não nascemos para ser meio humanos ou para ter uma vida mais ou menos digna, nascemos para sermos humanos em plenitude, ou seja, para desenvolvermos todas as potencialidades que Deus nos deu. A partir da multiplicação da nossa consciência de humanos chegamos à consciência política  e, a partir dela, de que tudo é possível construir ou mudar.   
          
    Decidi escrever este "ABC" da política pensando, sobretudo, em quem diz não entender nada de política e, talvez por isso, não goste de falar sobre ela. Devo dizer, entretanto, que escrevi esse "ABC" a partir de meus conhecimentos e experiências pessoais. Por ser um estudioso da História, sou historiador, tenho absoluta fé na capacidade humana para transformar sonhos em realidade e é com base nela que, através desses textos simplórios, espero estar semeando os germens da consciência política: a consciência de humanos.

                                                     BOA LEITURA!