Por Fernando Lobato _ Historiador
Em tempo de crise extrema e desordem social aguda, o Senado, na Roma Antiga, concedia poderes excepcionais e de curta duração, normalmente seis meses, a um governante identificado como DITADOR. Tal nome, talvez, estivesse ligado às decisões lentamente amadurecidas nos debates senatoriais que caracterizavam o rito ordinário daquilo que chamavam de REPÚBLICA. O DITADOR não se confundia com o TIRANO, pois este buscava governar apelando para a força militar e sem o consentimento e as regras do Senado. O assassinato de Júlio César foi motivado por esse motivo, pois, apesar de se auto-definir como ditador, era de fato um tirano. Quando Otávio, seu sobrinho, o sucedeu no poder, impôs sua autoridade sobre o Senado e governou com o título de IMPERADOR, ou seja, com um eufemismo criado para não vinculá-lo ao termo tirano.
Recorro à História para falar de duas democracias "paraplégicas" de nosso tempo que, em face dos interesses do poder concreto – do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) – se viram sequestradas por prazo indeterminado. Falo da Grécia e da Itália. A primeira, mãe do ideal democrático, foi sequestrada quando Papandreau cogitou a hipótese de realizar um plebiscito para que os gregos decidissem sobre o seu futuro. A segunda, saudosa dos tempos republicanos antigos, foi sequestrada quando Berlusconi se viu forçado a renunciar em nome de um "salvador" ungido pelo sistema financeiro, Mário Di Monti, que assumiu aos moldes dos ditadores antigos, ou seja, com a missão de impor a ordem – financeira é claro! – e tomar as medidas impopulares que o antecessor vacilava em tomar.
É importante frisar que se Mário Di Monti assumiu como os ditadores antigos, ou seja, com a benção do parlamento – o patriciado italiano atual-, demonstra apetite nos moldes dos tiranos, pois, de cara, exigiu comprometimento do parlamento para garantir-lhe a cadeira até, no mínimo, 2013. Na Grécia, Papademos foi alçado ao poder para cortar ainda mais fundo na carne já exposta dos gregos que, por razões óbvias, recusam a condição de "laranja" à espera da máquina que lhe retirará o bem mais valioso: o suco que será colocado numa embalagem longa vida e a seguir comercializado como toda e qualquer mercadoria. Os gregos resistem ferozmente porque tem clara consciência do tratamento de "suco" que os novos donos do país lhes darão. Grécia e Itália já tiveram sequestradas suas democracias "paraplégicas". Quem será a próxima vítima?
Parabéns, pelo brilhante texto, muito bom a sacada...
ResponderExcluir