A DEMOCRACIA SE FAZ CONTRA O GOVERNO DO OLIMPO

       
       











         










Por Fernando Lobato - Historiador

       Penso que um dos motivos principais da derrocada do mundo comunista foi o desprezo das vanguardas marxistas-leninistas pela DEMOCRACIA. A justificativa de uma DITADURA DO PROLETARIADO antecedendo a transição do capitalismo para o socialismo é um absurdo impossível de ser digerido por qualquer socialista convicto de que, sem liberdade e emancipação humanas, nenhuma revolução faz sentido. Eis o porque da oposição dos anarquistas ao regime da ex-URSS e o motivo pelo qual foram duramente massacrados pelos comunistas soviéticos. Na ótica anarquista, o estado é e sempre será o vilão a ser derrotado, ainda que chefiado pelo mais honesto e confiável dos operários. No estado, afirmam os anarquistas, há um vírus letal para qualquer ser humano: o vírus do poder que sobe à cabeça e que vitima, sobretudo, os que a ele estão submetidos.
       A Democracia, na Grécia Antiga, se afirmou passo a passo com a superação da mitologia pela filosofia. Se Zeus governava o Olimpo pouco importava, mas importava que os governantes se mantivessem submissos a única divindade terrena então aceitável: o povo reunido em Assembléia. Na Atenas democrática, não havia espaço para nenhum governo do Olimpo, ou seja, pautado na idéia de que os homens existem para o bel prazer das "divindades" ocupantes dos tronos estatais. No governo do Olimpo, o estado é senhor absoluto. Não pode, jamais, ser contrariado ou desacreditado por simples mortais. No governo do Olimpo, o chefe de estado, dada sua natureza "divina", é objeto de culto. Sua foto, busto ou estátua, espalhados por todos os cantos, representam a sua onipresença diante dos que lhe estão submissos.
       O Estado Moderno ou Liberal, a Democracia virtual, se afirmou contra o Governo do Olimpo que o precedeu: o Absolutismo Monárquico. Para alavancar os negócios que fizeram nascer as "divindades do Olimpo capitalista", os liberais entoaram cantos de louvor à liberdade e se esmeraram na denúncia do caráter vilão do Estado. Para eles, porém, diferenciando-se dos anarquistas, o estado não é o vilão a ser derrotado e destruído, mas sim minimizado no seu poder, ou seja, transformado num inútil útil para as "divindades do Olimpo capitalista". No tempo atual, quando o poder dessas "divindades" atingiu uma escala global, já não faz mais sentido entoar cânticos de louvor à liberdade, pois trata-se de um conceito amplo, subjetivo e, sobretudo, perigoso aos seus interesses.
      Para as "divindades do Olimpo capitalista" atuando por detrás do inútil que lhe é util, o Estado Neoliberal, a liberdade não é um bem para as massas terem acesso. Nela não devem nem pensar como algo possível. Eis um dos porquês das crises econômicas que se sucedem uma após outra. É preciso criar um mundo de medo e incertezas que gere, no indivíduo apático, um sentimento de conformismo com o que está posto. Mas importante que viver, acredita ele, é sobreviver. Mas importante que fazer greve é não perder o emprego. Com a dispersão do gás paralisante do medo, as novas "divindades" acreditam poder aperfeiçoar a sua forma de governo sobre os simples mortais. Querem que os "passarinhos" se sintam felizes em suas gaiolas, ou, muito pior que isso, morram de inanição quando deixarem de ser úteis*. Todavia, não sabem ou ignoram que a vida, por ser vida e vida que expressa o divino existente dentro de cada um, sempre encontrará portas de saída.
      Por mais delicadass e sofisticadas que sejam as "gaiolas" da época cibernética, nunca deixam de ser gaiolas, ou seja, de provocar a sensação da prisão. Já se sente no ar o frescor da chegada de uma nova primavera dos povos. Os egípcios que derrubaram Mubarak e que se insurgem contra a junta militar que usurpou o poder são um claro exemplo disso. A tolerância com arranjos feitos para dar uma falsa sensação de liberdade está cada vez menor. Cresce o descontentamento com uma liberdade marketizada e irreal. É grande o desejo de respirar a liberdade a plenos pulmões. Que a nova primavera chegue logo. Que venha como um tsunami benigno varrendo do mapa todas as formas de ditadura e opressão, sejam elas de cunho comunista ou capitalista. A Democracia, mais uma vez na História, se fará contra o governo do Olimpo. 

* A fome e as drogas vitimam, todos os dias, milhares de vidas ao redor do mundo. Nesse quadro, as grandes vítimas são os países mais pobres, ou seja, os mais explorados pela lógica do capitalismo global e, por isso, os maiores geradores de um sentimento de revolta contra a ordem criminosa que se instala mundialmente. Quando não podem ser incluídos dentro das "gaiolas" para eles construídas, os pobres, na cartilha do liberalismo ateu, viram objeto de descarte.

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