Por Fernando Lobato_Historiador
A ideia
central em torno da palavra DEMOCRACIA diz respeito a uma suposta
inversão na histórica relação de poder entre povo e governo, ou
seja, que, na contramão do passado, é o povo e não o governo que
agora dá as cartas no processo político. Dessa suposta inversão
vem a ideia do governo como mero serviçal do povo, ou melhor, de
uma estrutura totalmente subordinada e obediente aos que a sustentam
com o pagamento de tributos.
Eis
porque é ingenuidade pura crer na realidade da democracia aqui ou lá
fora, pois trata-se de uma casa ainda em recente construção. Alguns
povos já ergueram as paredes enquanto outros mal começaram os
alicerces. Mas, apesar das enormes dificuldades que a construção
dessa casa exige, é fundamental que cada um procure contribuir com o
assentamento de alguns tijolinhos, pois trata-se de uma obra que não
avança sem que o povo assuma a sua condição de senhor.
Um
termômetro do estágio avançado ou atrasado dessa obra está no
nível de corrupção existente na gestão pública. E é com base
nele que constatamos a nossa lamentável condição. Provas
incontestes disso estão em duas reportagens da edição de 24/06 do
Diário do Amazonas. Na primeira, começo destacando a seguinte frase
do promotor Fábio Monteiro: "A corrupção movimenta mais
dinheiro que o tráfico de drogas".
O autor
da frase é o Chefe do Centro de Apoio e Combate ao Crime Organizado
(CAO-Crimo) que, há quase um ano, vem realizando investigações no
interior do estado. Em mais da metade dos vinte municípios já
visitados foram observados fortes indícios de descarado desvio de
verbas públicas, principalmente nas áreas onde o povo é mais
carente, ou seja, em saúde e educação. O principal duto por onde
nosso suado dinheiro some tem o seguinte nome: REPASSE DA UNIÃO.
É
graças, principalmente, a esses repasses, que prefeitos fazem a
festa em cima da necessidade alheia. Na segunda reportagem, o
destaque fica por conta do Prefeito do Careiro da Várzea, Raimundo
Nonato da Silva, que pretende torrar 5 milhões na compra de
brinquedos para a criançada do município. Ressalte-se que o Careiro
sofreu grandes e graves prejuízos com a enchente recorde de 2012,
padece de enorme carência de recursos e, em 2010, foi um dos 52
municípios que não cumpriram o mínimo constitucional de 25% de
investimentos em educação.
Infelizmente
não se trata de gozação ou brincadeira do citado prefeito, pois
parece que fala sério quando diz pretender fazer a felicidade da
criançada local. É certo que o sorriso de uma criança não tem
preço, mas, neste caso particular, trata-se de algo que soa como
puro deboche. O que o "SENHOR" POVO acha do ato de seu
"serviçal" prefeito? Será que ele se dirigiu ao seu
senhor e chefe para pedir-lhe a opinião antes de se decidir por tão
"nobre" gesto? Será que a criançada do Careiro vai mesmo
conseguir brincar nos tais brinquedos? Será que alguém vai ser
punido, para além do "SENHOR" POVO, se a resposta for NÃO?
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