Mourão, Villas boas e o tititi sobre o óbvio


Por Fernando Lobato_Historiador 

Em 23 de maio - ver aqui - afirmei que o jogo de nossa “bandidagem patriota”, essa que tomou o poder de assalto hipocritamente em nome do combate à corrupção e de uma suposta recuperação da economia, era pra lá de arriscado. Na ocasião, escrevi o seguinte: “esse jogo, porém, é demais arriscado, visto que pode atrair à cena um ator político até aqui passivo e silencioso: O ESTAMENTO MILITAR”. A fala do General Mourão, diante de uma plateia de maçons (ver aqui), e do Comandante do Exército, em entrevista à Pedro Bial (ver aqui), demonstram exatamente isso, ou seja, a entrada dos militares no jogo de xadrez da crise, bem como o abandono de sua postura até aqui passiva e silenciosa.  Quando Mourão diz que não há um Cabral a seguir no momento, mas que existe um planejamento feito a partir de aproximações sucessivas, ele diz algo que é óbvio e rotineiro na cena histórica brasileira: quando as elites políticas se mostram atabalhoadas diante de um cenário de crise institucional, as FA costumam impor a sua própria solução.

Ainda que soe intimidadora, a fala do general é apenas mais uma prova de que o Brasil não é e nem nunca foi uma DEMOCRACIA, pois ainda somos tão somente um estado com representatividade na ONU e um ente econômico relevante no esquema capitalista global. Democracia significa condução do estado pela sociedade civil, mas esse nunca foi o nosso caso, visto que é o estado que continua tutelando a sociedade.  Foi essa condição de tutor que animou nossa “bandidagem patriota” a tomar o poder com o fim de sepultar a Lava-Jato, escapar da cadeia e, ainda de quebra, ganhar muito dinheiro com relevantes serviços ao setor privado. A estratégia neoliberal de efetuar grandes reformas estruturantes através de bandidos notórios foi fiel ao princípio da oportunidade, mas altamente irresponsável com os aspectos da legalidade, legitimidade e estabilidade, ou seja, com o tripé que o Comandante do Exército, conforme palavras de Mourão, adotou como referência no início da crise.

O governo Temer, portanto, está amplamente apoiado pelo mercado, mas não respeita nenhum dos elementos do tripé do Exército. Não tem legalidade porque o impeachment foi uma fraude jurídica. Não tem legitimidade porque é um governo rejeitado por 95% da população e, por fim, seja porque é amplamente rejeitado seja porque tenta destruir os pilares do estado com reformas que o asfixiam e o imobilizam, é também um agente de desestabilização. O estado, como dissemos, é ainda tutor da sociedade e, por conta disso, um ente vital na manutenção da ordem. O furor neoliberal dos apoiadores de Temer está na contramão dos interesses do estado, que tem as FA como pilar de primeira grandeza. Temer tenta reduzir e enfraquecer o estado sem cutucar o vespeiro militar e por isso deixou-os de fora da Reforma Previdenciária. Isso, todavia, é insuficiente, pois os militares são duramente afetados pelos cortes orçamentários e tendem a ficar à míngua nos próximos anos. Para além disso, soa forte nos ouvidos do alto escalão a acusação de omissão diante do assalto dos cofres públicos. 

A fala de Mourão e os panos quentes de Villas Boas, na verdade, formam um recado explícito: "aturaremos, por enquanto, a ditadura dos corruptos, mas exigimos que o Judiciário a revogue no curto prazo, caso contrário, colocaremos a nossa no lugar". Como não há apoio internacional, ou melhor, dos EUA para a imposição de uma Ditadura Militar no Brasil  e Temer continua prestigiado pelas forças do mercado, a ação soa mais como alerta do que efetiva intenção, mas o recado foi dado. Temer, é bom lembrar, não efetuou a revista da tropa no 7 de setembro – ver aqui-. Não efetuou porque deve ter sido informado que a tropa se sentiria ofendida se isso acontecesse, visto que a reputação de Temer é a pior possível, sendo provável que, sem conseguir segurar a onda, alguns gritassem FORA TEMER.

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