A tragédia da Chape, o choro que imobiliza e o oportunismo dos "urubus"

O "choro" de Janot dizendo que a Câmara colocou o Brasil em marcha a ré no combate à corrupção é a confirmação de que os "urubus" atuaram oportunamente no dia de ontem

Por_Fernando Lobato_Historiador

A tragédia da Chape enlutou o mundo esportivo e a nação brasileira e foi uma espécie de bomba que, ontem, caiu sobre as cabeças de todos os que foram afetados pela notícia. Essa tragédia, todavia, ocorreu em hora muito oportuna para um conjunto de brasileiros que dizem nos representar na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Para eles, o choro que tirou a atenção do noticiário político e imobilizou sentimentos ou desejos de revolta contra o que praticam, foi considerado  imperdível e, como “urubus”, não deixaram a oportunidade escapar. Na manhã de hoje, quem tomou conhecimento de tudo o que aconteceu no dia de ontem,  percebeu que os motivos de choro e lamento são bem mais amplos.

No Senado Federal, com o discurso já surrado de que a “irresponsabilidade do PT quebrou a economia do país e se faz necessária uma série de medidas amargas”, foi aprovada a PEC 55 em 1º turno. O problema é que as medidas amargas miram exclusivamente os fiofós da classe média e dos pobres e nadica nadica de nada nos fiofós da classe política e das elites que financiam suas campanhas. É aquela história: PIMENTA NOS OLHOS DOS OUTROS É REFRESCO! A PEC 55 congela despesas primárias por 20 anos  (saúde, educação, previdência, cultura, segurança, etc), mantendo sem controle as verbas para o pagamento dos juros da dívida pública que, sem nenhuma explicação lógica, é mantido nas alturas pelo Banco Central, ou seja, a montanha de impostos que é transferida para os banqueiros privados é o fator principal  de nossa crise e, para resolvê-la, eles exigem que o governo entregue tudo que é publico para o setor privado, ou seja, querem ganhar dos dois lados. Crer nessa solução não difere muito daquela que vê inocência em Geddel, o fraterno amigo de Temer, no caso denunciado pelo ex-ministro Calero.

Outro caso de oportunismo cretino dos “urubus” foi o desmantelamento feito na Lei de Combate à corrupção proposta pelo MPF. Das 10 medidas apresentadas sobraram apenas 04, sem deixar ainda de incluir medidas de intimidação contra procuradores e juízes. Eu tava mesmo achando muito estranho o anúncio conjunto de Temer, Renan e Maia garantindo que o artigo que anistiava os crimes de caixa 2 seria retirado da texto que seria aprovado. É fato que a promessa foi cumprida, mas nada disseram da contrapartida exigida pelos deputados corruptos do Congresso.  A Lava-Jato, pelo que se vê até aqui nas manobras de Temer e seus parceiros fraternos, está sendo minguada progressivamente na sua força de lavar alguma coisa, exatamente no momento em que ela começaria a apurar as travessuras praticadas pela trupe hoje no poder (PMDB,PSDB, DEM, PSB, PSD e outros), o que demonstra que esses “urubus” tem um faro muito apurado de oportunismo e de sobrevivência.