O debate da Band, os postulantes ao planalto e a candidatura Marina Silva


Por Fernando Lobato_Historiador

Prosseguindo com a análise das candidaturas ao Planalto, falaremos de Marina Silva. A ex-senadora pelo Acre (1995-2011) e ex-ministra do meio ambiente no governo Lula (2003-2008) tem uma bonita história de luta e superação. Analfabeta até os 17 anos, venceu a miséria e as doenças que vitimaram boa parte de sua família (ver aqui). Marina teve garra e força para estudar, graduar-se em História e, como não poderia deixar de ser, se engajar na luta política, já que todo historiador estuda o passado para compreender o presente e essa compreensão, normalmente, o leva a insurgir-se contra o status quo perverso e injusto que vigora entre nós desde o período colonial.  
Marina foi parceira de Chico Mendes, o militante que liderava os seringueiros do Acre na defesa dos seringais ameaçados pela expansão agropecuária desenfreada e sem respeito à especificidade amazônica. Chico Mendes acabou assassinado a mando dos fazendeiros (ver aqui) e Marina ganhou notoriedade política. Sua história a fazia crer que seria a sucessora natural de Lula, mas este, em vez dela, escolheu Dilma Roussef, a quem chamou de mãe do PAC (ver aqui). Marina, decepcionada e jogada para escanteio, saiu do PT para o  PV (Partido Verde) e foi à luta pela sucessão de Lula em 2010. Perdeu, mas foi muito bem votada, ficando em 3º lugar com mais de 20 milhões de votos (ver aqui). A ousadia de Marina a tornou forte e respeitável perante o eleitorado, mas aí veio o seu primeiro grande vacilo, ou seja, aceitou a condição de vice na chapa de Eduardo Campos em 2014 (ver aqui).
A morte de Campos, ainda sob suspeita, favoreceu Marina não apenas porque a trouxe de volta para a disputa, mas porque gerou um sentimento de que sua vez havia chegado. Tudo apontava para uma vitória fácil em 2014, mas aí veio o segundo vacilo: tentou agradar gregos e troianos com propostas tanto de esquerda quanto de direita. Isso aconteceu porque Marina usa um discurso sem definição ideológica: o DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. A sustentabilidade deve respeitar não apenas o meio ambiente, mas, principalmente, os direitos de quem trabalha e estes, quando afirmados, desagradam os tubarões acostumados a pagar salários de fome. Em 2010, por exemplo, Marina escolheu o presidente da Natura como vice, um tubarão no mercado de cosméticos (ver aqui). Plínio de Arruda Sampaio, candidato do PSOL, explorou essa contradição chamando-a de ECO-CAPITALISTA (ver aqui). Fora isso, passou a defender um dos grandes sonhos dos banqueiros – a privatização do Banco Central (ver aqui)– e, por conta disso, obteve milhões em doações do ITAÚ (ver aqui), o principal tubarão do mercado bancário brasileiro.
Sob suspeita tanto de eleitores da direita quanto da esquerda, Marina acabou perdendo votos na reta final e deixando de ir ao 2º turno. Não bastasse isso, cometeu o seu 3º grande vacilo político: apoiou Aécio Neves contra Dilma no 2º turno.  Esse 3º grande vacilo, por sinal, gerou a perda de muito dos militantes empenhados na criação do partido atual de Marina – o REDE SUSTENTABILIDADE (ver aqui). Apesar dos pesares, o REDE foi registrado no TSE e hoje Marina disputa a sua 1ª eleição presidencial por ele. Terá grande dificuldade de superar as desconfianças já consolidadas sobre ela. Tem, porém, um bom eleitorado já consolidado a nível nacional e isso a coloca um pouco a frente na corrida. Tem contra si, porém, o poderoso financiamento do andar de cima a Bolsonaro e a Geraldo Alckmin, ou seja, em 2018, não terá os grandes tubarões do mercado despejando dinheiro na sua campanha.

Comentários