Um brevíssimo olhar sobre o caminhar da humanidade: da criação do estado à afirmação do modelo capitalista


Por Fernando Lobato_Historiador
O homem é um ser naturalmente político em face da necessidade da vida em coletividade. Na Pré-História, essa necessidade o fez conviver em coletividades nômades que dependiam da caça, da pesca e da coleta de frutos e raízes. Era o tempo da moradia itinerante de caverna em caverna. Com a descoberta da agricultura, formaram-se comunidades sedentarizadas nas proximidades dos rios que passaram a viver do trabalho na terra e do pastoreio. Por milhares de anos, essas coletividades socializavam os frutos do trabalho coletivo de forma fraternal, havendo apenas uma divisão sexual do trabalho. Nesse longo tempo, inexistiu a propriedade privada e a divisão em classes sociais.
 Com a invenção do metal, essa realidade mudou radicalmente em face da produção de armamentos. Em pouco tempo, surgiram coletividades que passaram a sobreviver da exploração ou escravização de outras coletividades. E assim, a guerra como empreendimento econômico marcou o início do que entendemos por tempo histórico, ou seja, da civilização. A vida dita civilizada, portanto, desenvolveu-se negando o modo comunal que o antecedeu trazendo duas grandes novidades: a cidade e o estado. A cidade como coletividade ligada por laços de vizinhança e o estado como órgão voltado tanto para a defesa territorial quanto para a manutenção da ordem interna.
A comunidade de vizinhança das cidades dividiu-se em várias classes sociais com realidades distintas. Umas com maior poder econômico e político, as dominantes, e outras com poder econômico e político bem menor, as dominadas. Para além da divisão de classes entre os homens livres, havia também outra grande divisão separando-os dos escravos, ou seja, daqueles que estavam completamente impedidos totalmente de usufruir do próprio trabalho. Os escravos eram tratados como mero instrumento produtor de trabalho para seu senhor e eram tidos com bem patrimonial destes, recebendo, inclusive, tratamento contábil.
O tempo das civilizações escravistas vigorou na IDADE ANTIGA, com destaque para Egito, Grécia e Roma, o último grande império escravista dessa fase. Na fase seguinte,  a Idade Média, fruto da queda do Império Romano do Ocidente, o escravismo praticamente desapareceu para dar lugar a um novo mecanismo de expropriação dos trabalhadores. Esse mecanismo ficou conhecido como FEUDALISMO e consistia, basicamente, no poder que os nobres – grandes proprietários de terra – exerciam sobre os servos, ou seja, sobre aqueles que, em troca da exploração de um pequeno lote de terra, eram obrigados a cumprir uma série de exigências, sendo a CORVÉIA – trabalho gratuito por três dias na semana – e a TALHA – entrega de parte da produção obtida – as principais.
Na fase final da Idade Média, surgiram coletividades dedicadas ao comércio e à produção artesanal de produtos comercializáveis. Essas comunidades atendiam pelo nome de BURGOS. Nos burgos viviam comerciantes e artesãos, mas estes últimos, com o tempo, passaram a trabalhar para os primeiros em troca de um salário-produção. Com a difusão desse novo tipo de relação de trabalho, o comércio expandiu-se e abriu caminho para o surgimento das primeiras fábricas. Inicialmente, os trabalhadores utilizavam ferramentas manuais, ou seja, produzindo as chamadas manufaturas. Com a invenção da máquina a vapor, o processo de produção foi mecanizado e a produção passou a ter escala industrial, ou seja, o trabalhador deixou de executar todo o processo produtivo e, por conta disso, acabou expropriado do controle sobre as várias fases da produção.
A industrialização multiplicou muitas vezes o volume e o valor total das mercadorias produzidas coletivamente, mas a parte da riqueza distribuída na forma de salários sempre foi e ainda é muito limitada. A maior parte da riqueza passou a ficar concentradas nas mãos dos grandes burgueses – banqueiros, industriais, grandes comerciantes e políticos a eles ligadosEsse novo sistema é chamado de CAPITALISMO, ou seja, é um modelo político, econômico e social marcado por uma profunda divisão de classes. Esta divisão é feita de forma dinâmica e é fruto do processo de especialização produtiva típica do capitalismo. O capitalismo, portanto, é um sistema ancorado no controle do setor produtivo pela classe dominante, ou seja, pela alta burguesia (os maiores detentores de capital), bem como na desigualdade do acesso à renda e aos bens de capital.
     No capitalismo, portanto, o dinheiro é também uma mercadoria e, quem mais o acumula, mais rico e poderoso fica em função desse acúmulo. O capitalismo, enquanto sistema, ignora ou despreza questões éticas ou morais, pois o que importa é enriquecer, não importando o custo humano, ambiental ou social que esse enriquecimento venha a produzir. O tráfico de drogas e o tráfico de escravos são exemplos dessa afirmação, tendo em vista que as primeiras grandes fortunas do mundo foram construídas amealhando capital com essas e outras atividades ilegais. Por fim, podemos concluir afirmando que, no capitalismo, apesar do crescimento da riqueza gerada, cresce também a miséria e a distância social entre ricos e pobres.

      Para compreender melhor a lógica capitalista na atualidade, recomendo o vídeo "A Corporação", disponível no You Tube.

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