LULA: O GETÚLIO DO SÉCULO XXI


Após a posse de Dilma, uma pergunta será intensamente repetida nos próximos anos: Lula será ou não candidato em 2014? Se levarmos em conta a tendência de continuísmo na América do Sul, não há dúvida, Lula será candidato. Muito embora tenha dito que Dilma será sua candidata à reeleição, é pouco provável que Lula resista à tentação de um retorno à cadeira presidencial. Evidências disso foram dadas pelo próprio Lula quando pediu, no seu último discurso em rede nacional, que não o questionassem sobre o seu futuro e quando disse que Dilma somente não será candidata à reeleição se não quiser. É óbvio que Dilma não vai querer ser candidata se Lula desejar reassumir a cadeira em que a colocou.

Nos próximos anos, vamos assistir um Lula jurando de pé junto que não será mais candidato, porém, no final de 2013, é quase certo que o veremos se justificando diante do clamor popular e, semelhante ao príncipe Pedro no Dia do Fico, dirá que, para felicidade geral da nação, diga ao povo que volto. Não há bola de cristal que nos mostre se, assim como Getúlio Vargas em 1954, voltará carregado nos braços do povo, mas, por enquanto, essa é a tendência. É claro que há grandes diferenças históricas entre Getúlio e Lula, pois o 1º chegou lá pela força das armas enquanto o 2º pela persistência eleitoral. Getúlio era filho da elite enquanto Lula é filho da pobreza. Mas apesar das diferenças, há muita semelhança entre eles.

A maior semelhança está no fato de ambos, ainda no exercício do cargo, terem alcançado a condição de mito. Getúlio virou o pai dos pobres do Brasil do Século XX enquanto Lula já desfruta do mesmo status no início do XXI. É importante destacar que os dois viraram mitos com forte apoio de uma elite que, no início, os viu com desconfiança. Getúlio enfrentou a Revolução Constitucionalista de 32 e Lula, na Crise do Mensalão, ficou acuado diante dos que apostaram na sua morte política. Depois de balançar e não cair, os dois ficaram mais fortes não para enfrentar os poderosos, mas para com eles formalizar um pacto de aliança e convivência pacífica que os elevou à condição de mito.

Um mito vale não pelo que é, mas pelo que simboliza. Como símbolo, diz Bordieu[1], um mito tem o poder de conseguir tudo que, normalmente, implica no uso da força. Um mito serve não apenas para dar um tom mais colorido à realidade, mas também para ocultar facetas incômodas. Lula e Getúlio, por exemplo, adquiriram o status de pai dos pobres para ocultar a condição de mãe dos ricos. Um mito não nasce do nada. Um mito nasce com uma finalidade. A finalidade do mito Getúlio foi a domesticação das massas urbanas enfurecidas do início dos anos 30. A finalidade do mito Lula é a domesticação dos movimentos sociais de contestação que emergiram com o crescimento do próprio PT.

Para os criadores de mitos, a realidade jamais deve se parecer com aquilo que ela realmente é. Sem a ilusão projetada pela velha e antiga política do “pão e do circo”, o povo acaba se percebendo na condição de palhaço involuntário no “espetáculo” da vida real. Para os criadores de mitos, pior do que a dependência incômoda dos mitos por eles criados é o risco do povo se perceber como senhor da sua própria história. Para esses profissionais do ilusionismo, o mundo sem máscaras ou cortinas é o pior dos mundos porque está aberto para o não controlado e o não previsível. Para eles, a massa deve continuar sendo apenas massa de manobra, ou seja, dependente da benevolência e do poder dos mitos que criam.


[1] BORDIEU, Pierre. O poder simbólico.

Comentários

  1. Tomara que essa nova versão da "história" de Getúlio mantenha o roteiro original até o final..rsrsrsrs

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