Os últimos serão desclassificados. Quem ri por último, ri atrasado. Nessa lógica realista, muito pouco é quase nada. Não é, porém, o nada absoluto, pois, na lógica matemática, 0,001 é sempre maior que zero, ou seja, é alguma coisa. Faço esse intróito para falar do anúncio do Programa Brasil sem Miséria do Governo Dilma. As ações concretas que integrarão o plano ainda não foram anunciadas, mas, a julgar pelas metas apresentadas no último dia 03 de maio pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome, trata-se de uma intenção com nível de ambição tão miserável quanto a miséria que pretende erradicar.
Pelo anunciado, os mais de 16 milhões de brasileiros que sobrevivem com menos de R$ 2,33 por dia serão o foco do plano, ou seja, todos os classificados como extremamente miseráveis. Nesse sentido, penso que o plano deveria ser rebatizado para “Programa Brasil sem Miséria Extrema”, pois o que se objetiva erradicar, até 2014, é a miséria extrema e não a miséria no sentido amplo. Para alguém deixar de ser extremamente miserável, basta que ganhe, pelo menos, R$ 70,00 por mês. Quando isso acontece, o extremamente miserável, nas estatísticas oficiais, ascende à condição de miserável e, no futuro, poderá ascender à pobreza extrema.
Com esse jogo de palavras e a tradicional pirotecnia dos anúncios oficiais, o plano ganhou ares de uma semi-revolução no campo social. Em seu pronunciamento, a ministra Tereza Campelo tascou-lhe o adjetivo “ousado”. Por curiosidade, resolvi traduzir o custo dessa meta em din-din. Se cumprisse a mesma já em 2011, as contas governamentais seriam impactadas em pouco mais de 1 bi ao mês, pois isso, na prática, equivaleria à inclusão de mais 16.267.197 brasileiros no Programa Bolsa Família. Se essa meta tivesse sido incluída no Orçamento Geral de 2011, ela representaria cerca de 13,6 bilhões na despesa anual.
Para os leigos, os números podem até impressionar, mas, quando comparados com os de nossa economia, constatamos tratar-se de uma ninharia, principalmente, quando a projeção é feita para 2014. Se a economia crescer 4% ao ano, ou seja, 1% a menos do que o projetado pelo governo, em 2014, tal gasto representaria pouco mais de 1% do Orçamento da União. Se comparada com uma previsão subestimada do PIB de 2014, o resultado fica em torno de 0,3%. Se de fato a meta for alcançada, oxalá que isto aconteça, no ano da copa em solos brasis, o mundo saberá que, 192 anos após nossa independência, conseguimos erradicar nossa miséria extrema e que, se até lá for anunciado o Programa Brasil sem Miséria II, iniciamos a erradicação da miséria moderada.
Será que vai dar pra comemorar esse feito que, num país sério, seria motivo de vergonha? Bom, se o Brasil ganhar a Copa, haverá comemoração de qualquer jeito! Se assim acontecer, seremos hexa-campeões no futebol, mas, no ranking da justiça social, vamos continuar na rabeira. É esperar pra ver!
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