BRASIL, O PAÍS DAS GRANDES MARCHAS

A História do Brasil está repleta de marchas muito famosas. Nos anos 20, tivemos a grande marcha da Coluna Prestes, movimento rebelde nascido no Exército que tentou derrubar a corruptocracia* da República do Café com Leite. Nos anos 30, foi a vez das prestigiadas marchas do Integralismo, movimento de inspiração fascista que defendia um governo nos moldes de Mussolini e Hitler na Europa. Rivalizando com as marchas do Integralismo, somente as marchas da Aliança Nacional Libertadora, movimento popular de inspiração comunista que defendia um modelo mais de acordo com o que se pensava ser a ex-URSS. Em meados dos anos 40, tivemos as marchas do Queremismo, movimento popular que defendia a permanência de Vargas na Presidência, marchas essas que apressaram o golpe de estado que o afastou do cargo.
                Na década marcada por Juscelino Kubitschek, os anos 50 ou dourados, não houve marchas famosas, mas, na seguinte, tivemos a Marcha da Família com Deus, opondo-se ao Governo de João Goulart e, após o golpe que o afastou, as grandes marchas estudantis que abalaram e forçaram um fechamento ainda maior da Ditadura Militar. No final do regime, tivemos as grandes marchas do movimento “DIRETAS JÁ”, que defendia o retorno imediato da eleição direta para presidente. Finda a DITADURA, tivemos as marchas dos “Carapintadas” que, se não foram o motivo maior da queda de Collor, com certeza, apressaram a sua renúncia e impeachment. E hoje, quais são as marchas mais populares e famosas de nosso país? Respondo: A Marcha pra Jesus, dos evangélicos, A Marcha ou Parada Gay, dos GLS e simpatizantes, a Marcha da Maconha, auto-entitulada “da Liberdade” e, querendo entrar no calendário oficial das grandes marchas, a Marcha das “Vadias ou das Vagabundas”. O que todas estas marchas possuem de crítica ou contestação ao regime político atual? Respondo de novo: NADA
                A Marcha pra Jesus, para além da celebração de Cristo, celebra também o avanço das igrejas pentecostais num Brasil onde o catolicismo ainda é predominante. A Marcha ou Parada Gay, junto com a defesa da cidadania dos homossexuais, faz apologia da condição sexual de seus organizadores. A Marcha da Maconha, por sua vez, reivindica a legalização da canabis num país incapaz de inibir o consumo de drogas muito mais potentes e lesivas. A Marcha das “Vadias ou Vagabundas”, a mais caçula das marchas, reivindica o direito da mulher se vestir com pouca roupa e não sofrer censura ou limitação do poder público.  É óbvio que, num país que desejamos plenamente democrático, todos tem o direito de promover e defender suas demandas, o que é lamentável, porém, é a falta de grandes mobilizações voltadas para temas de interesse geral. Não vemos, por exemplo, nenhuma grande manifestação em defesa de uma educação pública de qualidade. Também não vemos grandes mobilizações exigindo mais ética na política ou a renúncia de políticos ladrões de carteirinha, principalmente  num momento em que a corruptocracia vem retomando o poder de outrora. 
*a corruptocracia é a mais abjeta forma de degeneração de sistemas políticos que pretensamente se assumem democráticos. No Brasil da República Velha, a corrupção e a fraude eleitoral foram institucionalizadas como instrumento de poder das oligarquias e dos coronéis a ela ligados. Hoje, assistimos uma re-escalada da corruptocracia por conta da crise ético-moral que abala o sistema político brasileiro.

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