O CINISMO E A DESFAÇATEZ COMO EVIDÊNCIAS DE NOSSA DEMOCRACIA DE ARAQUE

(imagem de Jacqueline Roriz recebendo dinheiro sujo de Durval Barbosa - operador do Mensalão do DEM do DF) 
     
         Uma das evidências mais comuns do caráter não democrático de um estado é a opacidade ou falta de transparência do que fazem os seus agentes nas salas e gabinetes do poder. Sob a luz dos holofotes é sempre aquelas juras de amor ao povo e ao interesse da nação enquanto, no escondidinho, jogam pro alto o pudor e a honestidade com a coisa pública. Eis o porque da lentidão na aprovação da lei do fim do sigilo eterno que, além dos podres do passado, tem por fim o direito de informação sobre o presente e isso, essa é grande a verdade, é o que de fato incomoda os viciados na rapinagem do dinheiro público.
        Sem a opacidade do escondidinho, a “sacanagem” tem de ser feita à luz do dia e com o risco de milhares de olhos atentos testemunharem e denunciarem a patifaria precocemente, ou seja, antes dos seus efeitos maléficos. Por ser uma espécie de “Big Brother da Verba Pública”, a lei do fim do sigilo eterno tem tantos inimigos dentro da Câmara e do Senado. Mas, para além da opacidade antidemocrática, tem sido comum a manifestação de outras evidências de nossa democracia de araque: O CINISMO E A DESFAÇATEZ. No dia de ontem, na sessão de julgamento da parlamentar – para lamentar – Jacqueline Roriz, essas duas evidências se mostraram de forma despudorada.
        Filmada metendo a mão em parte da bufufa suja do mensalão do DF, alegou já ter sido perdoada por seus eleitores e, em sua defesa, justificou ter cometido o ato antes de sua eleição como deputada federal. Em sua fala, tecnicamente, disse o seguinte: “roubei, mas roubei antes de ser eleita e, sendo assim, meu decoro continua impoluto, pois não se pode afirmar que continuei roubando depois que assumi um mandato para zelar pela honestidade no uso do dinheiro daqueles que um dia roubei. E sendo que eles, os que roubei, já me perdoaram pelo roubo do passado, tenho todas as condições para continuar cuidando do dinheiro daqueles que já roubei”.
       Sem questionar o plebiscito feito para verificar o tal “perdão dos eleitores”, a Câmara dos Deputados, com o mesmo CINISMO E DESFAÇATEZ da ré confessa, julgou-a numa VOTAÇÃO SECRETA – aquela que não permite saber como cada um votou- e, por maioria dos votos, acatou os argumentos da ladra confessa para permanecer fiscalizando a honestidade governamental. Jacqueline Roriz se escudou no mesmo CINISMO E DESFAÇATEZ que diz não ser antiético pegar carona em aviões de empresas privadas que prestam serviços ao governo. Depois do EU NÃO SABIA de Lula ficou difícil estabelecer limites para o grau de CINISMO e DESFAÇATEZ dessa classe que, indevidamente, chamamos de política, pois não é isso o que ela é de verdade. Se assim fosse, a Polícia Federal não estaria tão assoberbada de trabalho.

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