O CHORO DEPOIS DO LEITE DERRAMADO: A Elite local e o futuro da economia amazonense

        
                                    Por Fernando Lobato - Historiador

      Décadas antes do colapso da economia do látex, inúmeros analistas alertavam que esse seria o resultado da crescente produção asiática. O que a elite amazonense fez para tentar mudar o curso da História? Nada. Tentar mudar esse curso significava trocar o sistema do aviamento (extrativista e disperso) por uma produção em bases agrícolas (concentrada territorialmente), fato que exigia investimentos de longo prazo e tornava incerta a alta lucratividade dos aviadores (a elite local), visto que era o isolamento que garantia a exploração brutal dos seringueiros. Mesmo com a ameaça asiática, a elite acreditava piamente que nunca haveria de faltar mercado para o látex que era sua fonte de riqueza e ostentação.
       Um século depois, vemos o erro se repetir. Há décadas que se fala na diversificação da economia amazonense, mas os olhos da elite local – agora sócia de parte da elite nacional e internacional – não se desviam um milimetro sequer da galinha dos ovos de ouro da vez: A Zona Franca de Manaus. Todos sabem que o modelo surgiu como instrumento indutor, ou seja, provisório e temporário, mas diante do contínuo adiamento do dever de casa – irradiação de um desenvolvimento perene para outros segmentos (principalmente para aqueles que agregem valor à matéria prima regional) persiste o malabarismo de uma economia que se equilibra numa perna só.
       Assim como no passado, a inércia tem a ver com a perda de controle sobre a massa explorada. Dinamizando outros setores, escasseia a mão de obra disponível para o parque industrial, fato que, por sua vez, implica em aumento da média salarial. Com aumento de custo, apesar das isenções que garantem a permanência dos abutres aqui instalados, muitos podem arrumar as malas em busca de regiões mais atrativas, ou seja, mais atrasadas e com maior grau de exploração. Com a crise mundial chegando ao país, a elite começa a se questionar: O que fazer para não perder nossos sócios? Fóruns começam a ser feitos para encontrar as respostas. Enquanto isso, a possibilidade de um modelo mais democrático e justo permanece deixada de lado. Se a casa cair de vez, talvez, botem a questão em discussão.

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