Por Fernando Lobato - Historiador
A religião até pode funcionar como ópio do povo, conforme dizia Marx, mas somente quando desviada ou alienada de seu caráter libertário original. Jesus foi enfático quando disse: “Conhecereis a verdade e ela vos libertará”. Deus, segundo Spinoza, não é uma realidade apartada do mundo, mas a sua dimensão mais profunda e interior, pois é a substância primordial que tudo gerou e da qual somos a manifestação objetiva e finita. Em face disso, Gênesis, de forma figurada, nos retrata como sua imagem e semelhança. Deus, como expressão da verdade, tem por fim a criação de um mundo onde, de fato, possamos nos expressar como sua imagem e semelhança, ou seja, onde possamos ser livres de verdade. Deus é o pai da liberdade e toda religião fechada em si mesma é incapaz de nos religar aquele que é o nosso eu maior e original. Eis porque Jesus dizia que os fariseus eram cegos guiando outros cegos. Jesus era rude e duro com os fariseus porque não se pode ser dócil e suave com quem usa o nome de Deus para aprisionar aqueles que ele quer libertar, sobretudo, da ignorância de si mesmo.
Sócrates pregava o autoconhecimento como forma de libertação porque, de forma inconsciente, talvez soubesse da nossa condição de imagem e semelhança da verdade maior chamada Deus. Quando Jesus disse a frase “O Reino dos Céus está entre vós” não quis, creio eu, dar a entender que bastava a sua presença no seio do povo para que o mundo de Deus viesse a ser real. O que ele quis frisar, e até hoje muita gente não entende, é o fato de termos, quando conscientes de quem somos e do que somos capazes, tudo para construirmos, de forma coletiva e fraterna, o mundo que Deus e nós desejamos e que permanece como utopia na cabeça de muitos. Não há barreiras quando nos determinamos a vencê-las e não há amarras que não sejamos capazes de desatá-las. Para quem bate, já dizia o mestre, a porta se abre e quem procura sempre encontra. A religião, quando alienada de seu fim, pode sim funcionar como ópio, mas Deus sempre será o energético que nos dá asas, asas que nada tem a ver com as asas do RED BULL, por que são asas que nos permitem ter coragem de voar para a liberdade. Deus não é apolítico. Deus toma partido, nunca fica em cima do muro e é ideológico: É SOCIALISTA, pensa sempre no bem maior que pode fazer ao maior número possível dos filhos seus. É ele que move e inspira todos aqueles que acreditam que o Reino dos Céus aqui na Terra é viável, afinal, já disse o grande mestre, ele está no meio de nós, basta arregaçar as mangas, lutar e trabalhar em prol desse fim. Um final feliz.
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