OS ROMÂNTICOS E NOSSO IMPASSE CIVILIZATÓRIO

    
    
Por Fernando Lobato - Historiador

     Quando a Revolução Industrial dava os seus primeiros passos, pensadores como Rousseau logo perceberam que tempos sombrios aguardavam a humanidade do futuro. Criticavam o caráter anti-social e perverso das máquinas e a destruição da natureza em larga escala que formatava a nova racionalidade econômica que, para eles, era completamente irracional. Taxados de românticos, foram ignorados e vistos como hereges pelos sacerdotes (políticos e empresários) da nova fé religiosa: O PROGRESSO ILIMITADO.
       Mais de dois séculos depois, a persistência nessa fé cega coloca a humanidade diante de um impasse de difícil equação em face da escala global assumida pelo problema. O American Way of Life (estilo de vida americano), dogma da expansão da nova fé, não é mais sustentável nem nos países pioneiros do culto que colocou a conta bancária como núcleo da vida. Nas suas regras básicas, monopólio tecnológico e de capital nas mãos de poucos combinado com políticas de assalariamento massivo, o trem dá mostras de que não consegue mais avançar.
       Em países muito defasados que conjugam grande população com fartura de recursos naturais, tais como Brasil, Rússia, Índia e China – O BRIC – o trem ainda tem trilho para continuar, mas logo também vai parar, pois o planeta é finito e limitado. Além disso, o trem BRIC é fortemente dependente dos maquinistas americanos e europeus. Enquanto isso, cresce a descrença e a impaciência dos que estão ficando de fora do sonho americano. As arruaças dos londrinos e parisienses pobres e a revolta de gregos, espanhóis e outros são sintomas de um problema que  se expande e aprofunda.
     Aonde isso vai dar ainda não sabemos, sabemos apenas que os maquinistas querem remodelar os trens sem nenhum questionamento de sua fé cega, o que, por si só, já é sinal mais do que evidente de que mais insanidades serão cometidas, ou seja, imposição de mais sacrifícios e sofrimentos para os que já estão cansados de promessas e lenga-lengas. O mundo ferve e a dramaticidade toma o centro do palco. Tudo seria menos traumático se o romantismo não tivesse sido tão ignorado. Romantismo que milhões, nos fins de semana prolongado, tem na mente quando fogem das grandes cidades em busca da paz e do sossego ausentes na civilização do progresso.          

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