CIVILIZAÇÃO E DEMOCRACIA: REFLEXÃO E DEBATE PERMANENTES




         "Todo conceito traz junto consigo uma História. Toda História é, ao mesmo tempo, permanência e mudança, daí a importância da reflexão e do debate permanentes".

Por Fernando Lobato - Historiador
    
    Milton Santos, no documentário "O mundo global visto do lado de cá!" (CLIQUE AQUI PARA ASSISTIR!), chama nossa atenção para a falta de reflexao e debate em torno da idéia de civilização. Em diferentes momentos do passado, foi essa reflexão e debate que fomentou a busca por formas de organização social mais condizentes com o nível de civilidade de diferentes contextos históricos. Grécia e Roma não se tornaram grandes civilizações sem levar essa reflexão e debate quase à exaustão, principalmente no campo da política. E quando deixaram isso de lado, verificou-se a progressiva decadência de ambas. No tempo atual, a lúcida constatação do saudoso Milton Santos nos faz crê que a civilização erguida em nome de uma felicidade decorrente do progresso contínuo e ilimitado atinge um elevado grau de decadência, apesar da sua pouca idade, ou seja, mais ou menos 250 anos.
      No seu florescer, nossa civilização decretou a vitória das "luzes" da razão (Iluminismo) sobre as "trevas" da fé cega da Idade Média. Nela, o progresso, sobretudo no campo material, tornou-se sinônimo de felicidade crescente para toda a humanidade. Na prática, tal racionalidade mostrou-se como fé ainda mais cega que a dos tempos medievais, visto que o parto da nova civilização exigia crescente sofrimento dos mais humildes, forçados ao abandono de uma vida simples e digna no campo em busca de uma sobrevivência indigna em cidades industrializadas como Londres e Paris, transformadas em ilhas de enriquecimento de uma minoria e tormento para quem constituía as primeiras grandes favelas da História. Apesar disso, os novos "sacerdotes" bradavam o seguinte "catecismo": TRABALHEM DURAMENTE QUE A FELICIDADE UM DIA CHEGARÁ!.
      Mas visto que essa tal felicidade nunca chegava apesar do trabalho por até 16 horas diárias, os trabalhadores se organizaram e passaram a lutar coletivamente por leis que lhes garantissem um mínimo de dignidade na nova ordem. Nessa luta, ganhou força uma palavra propositadamente esquecida pelos "novos" sacerdotes: DEMOCRACIA. Graças ao resgate dessa palavra, para além do debate em torno da civilização pautada pela busca do progresso contínuo, cresceu e se desenvolveu o debate em torno da natureza e papel do ESTADO que, naquele contexto, já havia se tornado mínimo. Como fruto do amadurecimento do debate em torno da palavra DEMOCRACIA, ganhou força um ponto de vista que vê o ESTADO como promotor do bem e não do mal geral. De lá pra cá, final do Sec. XIX até hoje, ocorreram os avanços que a elite mundial quer hoje sepultar.
       Mas, ao querer fazer a roda do tempo andar para trás e não para frente, pois assim diz a lógica do progresso que professam e dizem ser a fonte geral de felicidade, os "sacerdotes" da nova "fé" demonstram total falta de coerência com seu "catecismo", deixando-nos vê claramente que sua racionalidade é racional somente no que tange à maximização dos lucros nas mãos de uma minoria cada vez mais temente em relação aos ventos que sopram do futuro. Para isso, buscam de todas as formas boicotar e impedir a reflexão e o debate em torno das palavras que serão a razão de ser das sociedades emergentes e que, se nunca deixarem cessar a reflexão e o debate em torno delas, com certeza serão capazes de construir uma felicidade realmente genuína para toda a humanidade. CIVILIZAÇÃO E DEMOCRACIA, ESSE DEBATE JAMAIS PODE CESSAR!

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