UM PROCURADOR A FAVOR DO BRASIL: Com quantos Felícios se faz uma grande nação?

"Eu tento fazer um trato com todas essas populações que eu tenho de defender judicialmente: "Eu não tenho idéia se a gente vai ganhar ou não, não há como saber disso, mas vocês podem ter certeza de que a gente vai até o final, que a gente não vai se vender". Porque uma das características que eles tinham dos órgãos que os tinham assessorado antes era de terem se "vendido" – digo isso entre aspas, porque a Funai, por exemplo, tem uma certa limitação; ela não pode ir contra o governo porque ela é parte do governo. Então, eles viam a independência do procurador, do Ministério Público, e diziam: "Vocês não têm rabo preso com ninguém, vocês podem ir até o final". O duro é tentar explicar que "ir até o final" não significa que a gente vá vencer. Então é extremamente angustiante" - Felício Pontes Júnior - Procurador da República no Pará em Entrevista à jornalista Eliane Brum


Por Fernando Lobato - Historiador
     
    Antes de Adam Smith escrever “A Riqueza das Nações”, eram as reservas de ouro e prata que definiam o quanto um país era rico e poderoso. Depois disso e ainda hoje é assim, é a especialização produtiva nas área de maior vantagem comparativa que é tida como principal fator para o desenvolvimento e enriquecimento nacional, ainda que tal riqueza seja progressivamente apropriada por um número cada vez menor de pessoas. É certo que não se pode pensar a melhoria das condições materiais de vida sem expansão e maior produtividade na área econômica, mas é certo dizer também que o valor de uma nação não se resume ao montante do PIB calculado anualmente.
      Submerso nos números de um PIB estão custos e valores impossíveis de ser contabilizados ou expressos em cifras monetárias, sendo essa a grande fraqueza das teses econômicas que determinam a vida e a morte dos povos do mundo há mais de dois séculos, visto que as mesmas desconsideram grande parte dos valores que que muitos consideram como inalienáveis e indiscutíveis. Em nome de uma falsa cientificidade, economistas tidos por “sérios” produzem “estudos” que se revestem de uma característica fundamental: o ocultamento dos valores que conflitam com os valores monetários expressos em mirabolantes cálculos e planilhas. Vai nesse sentido a afirmação do nobre e valoroso Procurador da República do Pará, Felício Pontes Júnior, que, após 11 ações judiciais, é tido como um dos mais ferrenhos opositores da construção da usina de Belo Monte.
     Em entrevista concedida à jornalista Eliane Brum (ver mais aqui), esse notório defensor das causas quase impossíveis expõe sua noção de desenvolvimento nos seguintes termos:  "O desenvolvimento predatório se opõe à preservação ambiental. Não enxerga o meio-ambiente como o lar, a casa, o habitat de todos os seres vivos. Mas sim como recurso econômico a ser exaurido para gerar lucro. E quase sempre lucro para poucos. É dessa visão de desenvolvimento que temos de nos livrar. Precisamos tecer outro tipo de racionalidade para lidar com o fato de que os recursos naturais de que dispomos são finitos, e que temos responsabilidade, não só com o nosso conforto, mas também com a sobrevivência das gerações futuras. A ideia de verdadeiro desenvolvimento não pode deixar de levar em consideração a preservação ambiental. Se deixar, não é desenvolvimento. Belo Monte é exemplo disso".
      Lendo a entrevista sobre o nobre magistrado-  no sentido de grandeza de espírito - me convenço ainda mais do acerto das teses eco-socialistas  que apregoam a necessidade de contabilização dos custos e valores que os economistas clássicos ocultam em suas planilhas nada éticas e sensatas. Penso, sobretudo, no valor dos seres humanos que formam uma determinada sociedade e, nesse sentido, fico a imaginar com quantos Felícios se faz uma grande nação. Uma nação cuja grande riqueza não foi nem de longe apreendida ou percebida por Adam Smith em seu livro clássico. Uma nação que tem como riqueza maior os homens e mulheres que, de forma absolutamente honesta e leal, devotam suas vidas para o cumprimento da missão que o coletivo maior lhe confere. Louvado seja Felício Pontes Júnior!

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