O MARKETING DA ENGANAÇÃO, O CÁLCULO DO PIB E O PATRIOTISMO INGÊNUO

"Mas se o Brasil hoje é a sétima economia do mundo, caminhando para ocupar posições ainda melhores no futuro próximo, a pobreza de grande parte de sua população só se explica pela desigualdade na apropriação da riqueza e da renda, por políticas públicas de concentração da renda e da riqueza. Os 10% mais ricos detêm 75% da renda e da riqueza nacionais. E dentro desse segmento estão 5 mil famílias extensas que possuem 45% da renda e da riqueza nacionais. A desigualdade também se reduz, lentamente, como o coeficiente de Gini nos mostra, mas não altera a posição do Brasil como um campeão da desigualdade. Em 2002, ele era de 0,587; em 2010, é de 0,526, ocupando a 84ª posição em um conjunto de 187 países.".- Trecho do artigo de SÍLVIO BAVA linkado abaixo para acesso.

Por    Fernando Lobato   _   Historiador
       
         No governo Dilma/Sarney (PT/PMDB), a corrupção crônica não é um mal tão grande assim, haja visto que, apesar da montanha de recursos públicos desviados, terminamos 2011 como a 6ª maior economia do mundo. Os brasileiros, apesar dos escândalos e dos ministros demitidos, tem muito o que comemorar, afinal, superamos a Inglaterra nos números do PIB e, em pouco tempo, diz Guido Mantega, Ministro da Fazenda, estaremos na 5ª posição. Quem diz que não estamos no rumo certo joga contra o país, haja visto que ele acelera enquanto o mundo quase para. Nunca dantes na História desse país algo assim aconteceu, quem não reconhece o grande feito da Era Lula/Dilma é antipatriota, pois não vê o bem que se fez ao povo desta nação antes tão sofrida e agora caminhando para um padrão de vida igual ao europeu, ainda que se trate, segundo o ministro e vidente Mantega, de uma caminhada com término somente em 2031.
       Essa foi, em linhas gerais, a mensagem de final de ano do governo Dilma/Sarney para todos os brasileiros. É obvio que se trata de uma mensagem carregada de marketing politico, ou seja, de propaganda feita para esconder o que incomoda e carregar de tinta no que dá pra mostrar. Todavia, como não sou marketeiro governamental e nem um patriota ingênuo que vê no aumento do PIB uma vitória da nação, trago aqui alguns esclarecimentos sobre a forma de cálculo do mesmo. O Produto Interno Bruto (PIB) é = consumo da população + gastos do governo + investimentos das empresas privadas + exportaçoes – importações. Como se vê, para o crescimento do PIB concorrem itens que dizem muito pouco acerca de uma sociedade. O aumento de consumo da população, por exemplo, pode ser motivado por gastos maiores com saúde e educação privadas, pois são contabilizados como serviços consumidos, pouco importando que seja um gasto motivado pela incompetência governamental nessas áreas.
        Se o PIB cresce, isso, por sí só, não é motivo de comemoração, pois como se sabe e a História do Brasil demonstra, pode muito bem significar aumento da desigualdade social, visto que os gastos da população são contabilizados de forma genérica. Um PIB pode crescer, por exemplo, devido maior atividade de madeireiras na Amazônia. Se derrubarem toda a floresta e isso provocar um boom no PIB deveremos comemorar? O PIB também cresce em função do aumento de gastos do governo, não importando se ele gasta bem ou mal o dinheiro do povo. O Governo Dilma/Sarney vai torrar mais de R$ 30 bilhões com a construção de Belo Monte e isso vai fazer o PIB crescer, mas dá pra comemorar a conclusão de uma obra que trará tantos malefícios sociais e ambientais? Que adianta arrotar superioridade PIBIANA sobre os ingleses se somente daqui a 20 anos, nos cálculos otimistas de Mantega, estaremos próximos do padrão de vida que eles já desfrutam?
      Não sou antipatriota e muito menos tolo para dar crédito a um ufanismo barato que lembra a Ditadura Militar. No "Milagre Brasileiro", época em que o PIB deu grandes saltos e a desigualdade social disparou, lançou-se o slogan: "BRASIL, AME-O OU DEIXE-O". Discordar, na época, era sinônimo de desamor pelo país. Críticas visam o aprimoramento, mas o governo atual, por não querer saber delas, reproduz incasavelmente a sua fábula do crescimento com distribuição de renda. De fato, o país vem crescendo e distribuindo renda, mas ela só alcança os muito pobres e os muito ricos. Para os muito pobres, o Bolsa Família, e para os muito ricos (banqueiros, empreiteiros, mega-empresários e políticos corruptos), juros da dívida pública, grandes obras ou concessões e contratos feitos de pai pra filho (ver mais aqui). A melhoria patrimonial dos remediados e da classe média ocorre somente através de grande endividamento. Quem tem contra-cheque e conta-corrente sabe do impacto dos consignados, do cheque especial e do cartão de crédito.
       Em linhas gerais, para que o PIB cresça, é necessário, principalmente, que o povo se endivide e fique refém de um emprego qualquer. É sensato comemorar o aumento do PIB se tornando cada vez mais escravo do sistema?

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