O PARTO, A PARTEIRA E A URGÊNCIA DA REFORMA POLÍTICA

Por Fernando Lobato_Historiador
A baixaria e os abusos escandalosos do poder econômico sobre o processo eleitoral precisam ser contidos com urgência. As Eleições 2012 em Manaus testificam essa necessidade.


   Francisco Campos, um dos ícones do pensamento autoritário brasileiro, aplaudia o que chamava de "Democracia de César" e repudiava a "Democracia Liberal", caracterizada, segundo ele, pela passionalidade e estridência histérica dos processos eleitorais. Para ele, era preferível a "paz" e o "silêncio" dos processos sucessórios decididos no seio das elites ao "barulho" e "baderna" das consultas eleitorais em que o povão tinha participação ativa. No final das contas, pensava ele, a "Democracia de César" acabava sendo muito mais benéfica ao povão, visto que  permitia avanços sociais sem afrontar ou ameaçar o STATUS QUO dominante, ou seja, dentro do princípio positivista de "ORDEM e PROGRESSO" presente em nossa bandeira.
    O pensamento de Campos - fã de Adolf Hitler - foi influente tanto na Ditadura de Vargas (1937-1945) quanto na Ditadura Militar (1964-1984) e ainda hoje permanece influente no seio das elites e em boa parcela da classe média. Tal pensamento diz o seguinte: SE O POVÃO NÃO TEM EDUCAÇÃO E NÃO SABE VOTAR, POR QUÊ RAZÃO LHE É DADO O DIREITO DE VOTO? Se de um lado é  condenável pelo sofisma em favor do autoritarismo, bem como pelo desejo de ver a política limitada aos chamados homens "bons" ¨(os de posse, status e conhecimento) de outro  aponta para um dos problemas centrais da "democracia" de massa, ou seja, para um dos aspectos que contribuem  para que eu sempre a escreva entre aspas.
    Jogar a culpa naqueles que são vítimas do processo histórico que fez o Brasil ser o que é  reforça a intolerância e insensibilidade da elite que produziu tal pensamento, tendo em vista que ela é a responsável maior por tal situação. Antes, não dava educação porque tratava o povo como mera mula de carga, ou seja, como fonte de riqueza e poder para si mesma. Com a República e a inevitável lembrança da noção de igualdade, se viu obrigada a conceber o governo como algo útil para além de si mesma, mas, até os anos 30, nada fez nesse sentido. Com a Era Vargas e o início da industrialização, começou a investir em educação pública, mas direcionou-a para o exercício de habilidades técnicas, ou seja, ignorando qualquer relação com o exercício da cidadania.

A elite de ontem fez da Abolição da Escravatura um processo lento, muito gradual e extremamente restrito e o mesmo durou 38 anos (1850-1888). A elite de hoje quer fazer o mesmo com a obrigatoriedade de 10% do PIB em Educação.

   Em seus discursos, o Senador Cristóvão Buarque tem mencionado o termo "ABOLIÇÃO INCONCLUSA" para dizer que a Lei Áurea de 1888 continuará ineficaz enquanto EDUCAÇÃO PÚBLICA NÃO FOR PRIORIDADE NACIONAL. Mas o fato é que nossas elites não querem essa prioridade porque não lhes interessa eleições em que ela possa ser amplamente derrotada. Eis porque se posterga a obrigatoriedade de 10% do PIB em educação da mesma forma que antes se postergava a decretação da Lei Áurea. Hoje, ela não tem como  negar o voto à grande massa e, em face disso, trabalha para mantê-la alienada de modo que fique sempre refém e dependente das candidaturas que ela pariu.

A elite desavergonhada e irresponsável do Amazonas transformou as Eleições 2012 de Manaus numa espécie de tira teima final entre o Garantido e o Caprichoso.


  O processo eleitoral municipal de 2012 vai encaminhando-se para o seu final pelo Brasil afora. Em várias capitais vemos essa elite assumindo várias faces para confundir e dificultar o voto naqueles que ela considera temerosos ou perigosos. Em Manaus, pratica o que chamo de "bovinização" da disputa, ou seja, transforma a mesma numa espécie de tira-teima final entre o Caprichoso e o Garantido. A estridência histérica e passional de que falava Francisco Campos já provocou, para além das ovadas ou cusparadas, o assassinato de um dos coordenadores de campanha de Arthur Neto, um dos "bois" representantes da elite baré. Não tenho a menor simpatia pelo pensamento de Francisco Campos, mas apoio a ideia de se limitar e conter a passionalidade e a estridência histérica dos processos eleitorais.
  Para que se tome uma decisão madura e sensata é preciso tranquilidade e paz de espírito para que se possa pensar e refletir e essa passionalidade e estridência histérica que a elite que se diz amante de "ordem e progresso" vem produzindo não apenas não faz bem à saúde da sociedade como, ao mesmo tempo, transforma-se num sério entrave à afirmação da democracia. As pesquisas buscam enquadrar o eleitor dentro dos marcos que lhe interessa, folhetins e jornais de quinta categoria são produzidos em massa todos os dias para envolver a população nas intrigas artificiais que são criadas exclusivamente para prender-a atenção do eleitor naquilo que não tem valor algum. Até mensalinho para pastores de igrejas está sendo apurado pela Polícia Federal em Manaus.

Pastor José João, da Aliança Cristã Evangélica do Brasil, denunciou os abusos cometidos por pastores e mencionou a existência de mensalinhos recebidos pelos mesmos nas Eleições 2012 (Clique aqui para ver a reportagem)
  
  Nunca o apelo emocional e irracional, fundamentado numa pseudo religiosidade, foi tão descaradamente e desavergonhadamente utilizado. Mas do que nunca é preciso retomar a discussão de uma REFORMA POLÍTICA AMPLA, GERAL E IRRESTRITA. A sociedade e a Justiça Eleitoral, como parteiras de um novo processo, precisam enfrentar e enquadrar o vale-tudo em que as disputas estão se transformando. Medidas como a limitação legal dos gastos de campanhas precisam ser feitas imediatamente e essa limitação precisa ser ampla e profunda para evitar a formação de "currais" eleitorais por aqueles que não tem escrúpulos em explorar e manipular os que enxergam nas eleições apenas um momento para obter um emprego temporário. CHAMAR ISSO DE DEMOCRACIA É NÃO OU NÃO DEBOCHAR DA NOSSA CARA? Digam vocês!!!

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