A conclusão do processo eleitoral 2012, o fim da temporada das promessas e o início da "estação" das desculpas
Por Fernando Lobato_Historiador
O processo eleitoral
2012 chegou ao fim com a disputa do 2º turno. Tal como a chegada do outono
prenuncia o inverno que se avizinha, progressivamente perceberemos uma mudança
de tom na fala dos eleitos. No lugar da proposição enfática e da afirmação retumbante escutaremos termos como "os recursos são escassos", "a logística
para tal é complexa e delicada", "precisaremos ver os termos em que o
contrato foi firmado", etc. Em Manaus, por exemplo, vamos ver um Arthur
Neto reafirmando que tais e tais ações continuam sendo seu COMPROMISSO, mas que
o povo precisará ter um pouco mais de paciência tendo em vista as dificuldades e
entraves que a realização de suas promessas terão pela frente.
Na temporada política que se inicia em Janeiro de 2012, este será o principal livro de cabeceira dos eleitos.
No afã de seduzir o eleitor, tal como amante na alcova, juras e promessas
são feitas jogando pro ar isso que chamamos de reflexão e senso de realismo.
Eis aí mais um dos aspectos que revelam a idade infantil da democracia
entre nós. Num momento em que a racionalidade deveria ser mais presente na
conduta de eleitores e candidatos vemos a ocorrência do contrário
disto, ou seja, a predominância de arroubos e investidas passionais nas duas
esferas. Foi numa investida passional que a campanha de Vanessa enveredou pela trama que envolveu pastores e igrejas na
tentativa de agrilhoar o voto do eleitor mais simples e de boa fé. Felizmente,
devo dizer, o tiro saiu pela culatra.
Mas se a passionalidade foi intensa na conduta ,
principalmente, dos candidatos que foram ao 2º turno, ela não foi menor nas
demonstrações de euforia que se seguiram antes e depois da vitória de Arthur
nas urnas. Testemunhei amigos e conhecidos, que tinha em conta como pessoas equilibradas e de bom senso crítico, falando coisas do tipo: "O POVO SERÁ
FINALMENTE LIBERTADO", "NOSSO DIA DE REDENÇÃO CHEGOU", ETC. Tais
manifestações, pasmem, não vieram de praticantes de nenhuma igreja
salvacionista, mas sim de pessoas letradas e que ocupam lugares significativos
na ordem social. Se tais se dão o direito de ser "PORRA LOCA" em
tempo de eleição, que esperar dos que ignoram a reflexão na hora de votar?
Passado o vendaval
eleitoral veremos a poeira voltar a se acomodar no chão e o cotidiano
ser tomado por outras demandas – NATAL, ANO NOVO, CARNAVAL – e é muito provável
que muita gente, tal como muitos dos que
foram eleitos em 2012, só volte a pensar em política na próxima eleição.
Independentemente disso, deixo aqui registrada a mudança de tom e ênfase na
fala dos eleitos. A verdade é que a ESTAÇÃO DAS DESCULPAS que se avizinha não
será determinada predominantemente pelos óbices e dificuldades que irão
aparecer nos relatórios governamentais, mas, em face, entre outros motivos, de
desentendimentos que advirão do loteamento e partilha de cargos e verbas dentro das administrações municipais Brasil
afora.
Quem ainda não descobriu, cedo ou tarde descobrirá que a
disputa estridente e ferrenha não se deu tanto pelo que fazer ou não fazer na
administração municipal, mas, principalmente, pelo CONTROLE DA CHAVE DO COFRE,
ou seja, pelo poder de mantê-lo aberto para bem estar e alegria dos aliados e
amigos do peito. E, parafraseando Manuel Bandeira, aliados e amigos do peito
dirão de forma esfuziante: LÁ EM PASÁRGADA SOU AMIGO DO REI! Os mais indiscretos, porém, utilizarão o nome da cidade onde seu candidato a prefeito foi eleito.
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