A midiatização das Eleições, a falta de propostas e a "arte" de convencer sem dizer nada

Muito blah blah blah é nada de propostas de efetiva mudança. Em vez propor a  transformação, nossos políticos se limitam a nos dizer que nos conformemos e acomodemos ao que está posto.

 Por Fernando Lobato_Historiador

    "Eu presto atenção ao que eles dizem, mas eles não dizem nada", cantava o grupo Engenheiros do Hawaí numa  música de grande sucesso nos anos 80. Mas um processo eleitoral se foi e mais uma vez essa máxima foi confirmada. Durante o processo eleitoral 2012 de Manaus ouvimos um festival de palavreados que nada disseram acerca de políticas efetivamente comprometidas com o desenvolvimento da vida coletiva baré. Quando pensamos a política em termos democráticos temos em mente a capacidade que o estado possui, junto e sob a supervisão atenta da sociedade, de promover o desenvolvimento humano de uma forma generalizada, ou seja, de constituir uma realidade onde todos possam usufruir de uma melhor qualidade de vida no cotidiano. Não foi à toa e nem por acaso que a ONU criou um índice para mensurar esse aspecto, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). De outro modo, quando pensamos em  propostas de campanhas eleitoral temos em mente a apresentação de formas, meios e mecanismos claros e objetivos para fazer acontecer esse desenvolvimento.
       Na esteira do neoliberalismo não professado, mas amplamente praticado por PT, PSDB e outros, continuamos a ouvir atônitos o uso do termo "crescimento" como sinônimo de "desenvolvimento". O PAC de Lula/Dilma, por exemplo, cujo "C" significa apenas crescimento, é vendido como fórmula mágica e eficaz de promoção do desenvolvimento generalizado no país. Todos sabemos o que o crescimento faz, ou seja, o aumento do volume de negócios em moeda corrente, ou melhor, um aumento na oferta e demanda de bens e serviços pela população.  Nesse sentido, aumento de gastos com Planos de Saúde e Ensino Privado são tidos como indicadores positivos no crescimento do PIB, ainda que signifique o sacrífício econômico de famílias que ficaram impedidas de obter um maior conforto material ou que tiveram de abrir mão, por exemplo, de gastos com lazer. Nesse caso específico, aumento do PIB é o mesmo que redução no IDH, haja visto que a população realiza gastos que deveriam ser oferecidos com qualidade pelo Estado, tendo em vista que essa é uma de suas funções básicas e elementares.
         Para garantir esse crescimento sem desenvolvimento, os candidatos mais cotados à vitória  em Manaus (Arthur Neto e Vanessa Graziotin) gastaram um tempão falando em BRT e monotrilho e em soluções para o caótico trânsito de Manaus. Para eles, mais importante do que propostas que aproximem a moradia do trabalhador do seu local de trabalho ou estudo é a construção de sistemas caríssimos e de questionada eficácia para fazê-lo gastar menos tempo de sua estressada e corrida vida em algo que numa sociedade verdadeiramente desenvolvida não seria motivo de tantas queixas e aborrecimentos. Nada se fala, por exemplo, em programas de moradia popular nas áreas mais centrais da cidade ou em políticas de aluguel social para reduzir o percentual de imóveis fechados nessas mesmas áreas por conta da especulação imobiliária. Na ótica do crescimento, moradia de trabalhador tem de ser sempre na periferia, ou seja, onde inexistem ou são precárias as estruturas básicas que melhoram o IDH (saneamento, educação, saúde, etc). E já que falei no tema habitação, devo aqui registrar a timidez das propostas apresentadas nessa área pelos dois candidatos citados, ou seja, cerca de 10 mil novas casas em quatro anos numa cidade cujo déficit é enorme e se amplia anualmente em mais de  15  mil unidades.

A midiatização eleitoral não está servindo muito para informar e esclarecer, mas, sobretudo, para alienar e tirar de foco aquilo que realmente interessa.

         Para além desse maquiavelismo conceitual tendo em vista uma população pouco dada a conceitos econômicos e sociológicos, constatamos, para nossa tristeza e infelicidade, uma processo de midiatização  das eleições com o fim de transformá-la numa telenovela da vida real. O público, ao invés de questionar propostas e objetivos, foi convidado a se posicionar contra ou a favor dos principais personagens por variados motivos.  Enormes gastos foram feitos, por exemplo, para demonstrar que Arthur e Vanessa são pessoas tementes a Deus. Concordo que a crença ou amor a Deus no sentido cristão, ou seja, de amar a Deus para amar melhor o próximo possa fazer de alguém  uma pessoa melhor, mas pouco ou nada diz acerca da sua capacidade de realizar projetos de interesse geral. Em Manaus, como resultado triste desse processo, tivemos uma espécie de BIG BROTHER ELEITORAL com dois paredões decisivos ( o primeiro e o segundo turno). Como num concurso de piada, em que o mais importante não é a história em si, mas sim a forma como a mesma é contada, nosso candidatos se empenharam na "arte" de convencer e ganhar a simpatia geral fazendo muitas caras e bocas, mas dizendo pouco ou quase nada do que se esperava ouvir daqueles que tem por missão a tarefa de desenvolver e levar a melhor termo a nossa vida coletiva. Será que a mesma mediocridade irá se repetir em 2014? Esperamos sinceramente que não. 

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