A AMIL, a UNITED HEALTHCARE e a impressionante lucratividade da mercadoria saúde privada

O geógrafo David Harvey tem sustentado que o capitalismo é um sistema anti-humano por conta da necessidade crescente de arranjar novos investimentos para o enorme excedente de lucros que gera mesmo com taxas de crescimento baixas. Na semana passada observamos essa tese no processo de compra da AMIL pela UNITED HELTHCARE.
  
Por Fernando Lobato_Historiador

   Há quem afirme de forma contundente que o CAPITALISMO é apenas uma forma de organização mais moderna de uma economia que se quer mais produtiva e eficiente. Há também  quem discorde e negue completamente a tese de que a mão invisível do mercado – que dizem ser o melhor regulador entre oferta e demanda de bens e serviços – tem muitas mãos visíveis dentro dos governos para garantir que ela funcione conforme a teoria neoliberal. É para esses entusiatas ou praticantes da fé capitalista que escrevo este post. Nele, enfocarei a compra da maior prestadora de serviços de saúde privada do Brasil – A AMIL -  por uma gigante internacional desse setor – A UNITED HEALTHCARE.
       Faz parte da rotina capitalista a compra de corporações por outras maiores ou a fusão delas com o fim de obter maior envergadura e capacidade de investimento, de modo que a compra da AMIL pela UNITED está em sintonia com o modus operandi do sistema. Gostaria, porém, de destacar alguns dados dessa operação.  No primeiro, destaco o faturamento anual e o lucro líquido operacional da UNITED no último trimestre, ou seja, respectivamente, 110 bilhões e 1,56 bilhão de dólares. Convertido em reais, o lucro líquido anual da mesma fica em torno dos 13 bilhões, ou seja, muito próximo do maior lucro já obtido por um banco no Brasil, ou melhor, da façanha do ITAÚ em 2011-  14,62 bilhões.

O talento do ex-ministro Palocci como consultor parece mesmo excepcional. Onde tem um grande negócio lá está ele. Segundo divulgado na imprensa, Palocci atuou como consultor da AMIL no processo de venda desta para a UNITED HEALTHCARE.

      Por esses dados constata-se que a saúde privada já é quase tão rentável quanto os bancos, de modo que Edson Bueno, o fundador da AMIL, com a concretização do negócio, conforme  divulgado, será catapultado ao grupo dos dez mais ricos do mundo. Atentem bem, não é apenas do Brasil, é do mundo. E assim vamos nos afirmando como nova potência mundial na capacidade de produzir grandes fortunas. Eike Batista já faz parte desse grupo, mas hoje,  02 de dezembro, fico sabendo que perdeu o posto de homem mais rico do país para Jorge Paulo Lemann, dono da AMBEV. Imprensa e entusiastas da fé capitalista louvarão a façanha desses "notáveis" brasileiros e nos instigarão a comemorar seus feitos em prol de uma suposta valorização do Brasil diante do mundo.
       É interessante observar que Mário Amato, Presidente da FIESP em 1989, quando Lula chegou ao 2º turno contra Collor, chegou a afirmar que a vitória dos "socialistas" do PT provocaria a saída em massa do empresariado nacional para o exterior. Os fatos, no entanto, estão nos mostrando que, pelas mãos do PT, nunca dantes na História desse país houve tanta felicidade no seio do grande empresariado. É interessante também destacar que Antonio Palloci, ministro petista que renunciou em face das dificuldades para explicar como ganhou tanto dinheiro em tão pouco tempo como consultor, prestou consultoria à AMIL no negócio.  Outro fato que chamou a atenção foi a celeridade com que o mesmo foi aprovado pelo órgão governamental responsável, a  Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS) – exatos 13 dias.

Se a entrada da UNITED HEALTCARE no mercado brasileiro se tornar em mais uma grande dor de cabeça para os usuários de planos privados de saúde, não existe, até o momento, nenhum instrumento legal que permita levar o ex-diretor da ANS aos tribunais por conta da pressa observada na aprovação da compra da AMIL pela UNITED HEALTHCARE. 

      Pela lógica, a aprovação de um negócio que transfere para estrangeiros a prestação de serviços em saúde de milhões de brasileiros deveria ser feita com vagar e muita cautela, mas não foi isso o que se viu, pois, diferentemente da ineficiência que, segundo os neoliberais, é a característica principal dos órgãos governamentais, a ANS foi impressionantemente ágil e eficiente. Agilidade e eficiência que gostaríamos também de ver no atendimento dos usuários do SUS, mas tal não acontece porque, tanto na saúde quanto na educação pública, a tese neoliberal da ineficiência estatal insiste em se mostrar implacável e inquestionável. Será a mão invisível  do mercado a responsável por esta realidade ou ela é fruto da mão visível de agentes infiltrados dentro do governo?
    Me impressiona o fato da ANS ser dirigida por um colegiado de apenas cinco membros. Seu Diretor-Presidente é indicado pelo Ministro da Saúde à Presidência da República e esta, ao acatar o nome, o submete à aprovação do Senado. Maurício Ceschim, Diretor-Presidente na aprovação da compra da AMIL, diz a imprensa, é amigo pessoal de longa data de Edson Bueno, o mais novo brasileiro a entrar na lista dos homens mais ricos do mundo. Como se vê, a eficiência e rapidez demonstrada pela ANS parece ter tido uma boa dose de fraternidade de Ceschim para com Bueno, mas ambos, se questionados, afirmarão que os princípios republicanos foram rigorosamente observados. 
       O curioso é que Ceschim,  tão logo aprovou a operação, deixou o órgão. Dizem que isso se deu em face do encerramento de seu mandato em 19 de novembro último. Todavia, se desejasse,  poderia ter pleiteado a reeleição para continuar servindo ao país, mas não quis. Será que passado algum tempinho veremos Ceschim prestando serviços à gigante americana que acaba de entrar no país? Se o fizer, diz a lei, o fará em face da liberdade que tem para exercer seus dotes conjuntos de executivo e médico. A UNITED já está anunciando que pretende ter os brasileiros de baixa renda como seus clientes – pretende ampliar ainda mais o lucro de seus acionistas. Para ela, saúde é uma mercadoria muito lucrativa. Se  precarizar a prestação de seus serviços para garantir seus lucros, poderão os usuários prejudicados culpar Ceschim por seus infortúnios? Todos sabemos a resposta, principalmente o próprio Ceschim. Pode a saúde pública melhorar com tantos interesses poderosos dependendo da permanência de sua precariedade? Deixo a questão em aberto para que cada um responda por si mesmo.

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