Por Fernando Lobato_Historiador
Há quem afirme de forma
contundente que o CAPITALISMO é apenas uma forma de organização mais moderna de
uma economia que se quer mais produtiva e eficiente. Há também quem discorde e negue completamente a tese de
que a mão invisível do mercado – que dizem ser o melhor regulador entre oferta
e demanda de bens e serviços – tem muitas mãos visíveis dentro dos governos
para garantir que ela funcione conforme a teoria neoliberal. É para esses
entusiatas ou praticantes da fé capitalista que escrevo este post. Nele,
enfocarei a compra da maior prestadora de serviços de saúde privada do Brasil –
A AMIL - por uma gigante internacional
desse setor – A UNITED HEALTHCARE.
Faz parte da rotina capitalista a compra de corporações
por outras maiores ou a fusão delas com o fim de obter maior envergadura e
capacidade de investimento, de modo que a compra da AMIL pela UNITED está em
sintonia com o modus operandi do sistema. Gostaria, porém, de destacar alguns
dados dessa operação. No primeiro,
destaco o faturamento anual e o lucro líquido operacional da UNITED no último
trimestre, ou seja, respectivamente, 110 bilhões e 1,56 bilhão de dólares.
Convertido em reais, o lucro líquido anual da mesma fica em torno dos 13
bilhões, ou seja, muito próximo do maior lucro já obtido por um banco no
Brasil, ou melhor, da façanha do ITAÚ em 2011-
14,62 bilhões.
O talento do ex-ministro Palocci como consultor parece mesmo excepcional. Onde tem um grande negócio lá está ele. Segundo divulgado na imprensa, Palocci atuou como consultor da AMIL no processo de venda desta para a UNITED HEALTHCARE.
Por esses dados constata-se que a saúde privada já é
quase tão rentável quanto os bancos, de modo que Edson Bueno, o fundador da
AMIL, com a concretização do negócio, conforme
divulgado, será catapultado ao grupo dos dez mais ricos do mundo.
Atentem bem, não é apenas do Brasil, é do mundo. E assim vamos nos afirmando
como nova potência mundial na capacidade de produzir grandes fortunas. Eike
Batista já faz parte desse grupo, mas hoje,
02 de dezembro, fico sabendo que perdeu o posto de homem mais rico do
país para Jorge Paulo Lemann, dono da AMBEV. Imprensa e entusiastas da fé
capitalista louvarão a façanha desses "notáveis" brasileiros e nos
instigarão a comemorar seus feitos em prol de uma suposta valorização do Brasil
diante do mundo.
É interessante observar que Mário Amato, Presidente da
FIESP em 1989, quando Lula chegou ao 2º turno contra Collor, chegou a afirmar
que a vitória dos "socialistas" do PT provocaria a saída em massa do
empresariado nacional para o exterior. Os fatos, no entanto, estão nos
mostrando que, pelas mãos do PT, nunca dantes na História desse país houve
tanta felicidade no seio do grande empresariado. É interessante também destacar
que Antonio Palloci, ministro petista que renunciou em face das dificuldades
para explicar como ganhou tanto dinheiro em tão pouco tempo como consultor,
prestou consultoria à AMIL no negócio.
Outro fato que chamou a atenção foi a celeridade com que o mesmo foi
aprovado pelo órgão governamental responsável, a Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS)
– exatos 13 dias.
Se a entrada da UNITED HEALTCARE no mercado brasileiro se tornar em mais uma grande dor de cabeça para os usuários de planos privados de saúde, não existe, até o momento, nenhum instrumento legal que permita levar o ex-diretor da ANS aos tribunais por conta da pressa observada na aprovação da compra da AMIL pela UNITED HEALTHCARE.
Pela lógica, a aprovação de um negócio que transfere para
estrangeiros a prestação de serviços em saúde de milhões de brasileiros deveria
ser feita com vagar e muita cautela, mas não foi isso o que se viu, pois,
diferentemente da ineficiência que, segundo os neoliberais, é a característica
principal dos órgãos governamentais, a ANS foi impressionantemente ágil e
eficiente. Agilidade e eficiência que gostaríamos também de ver no atendimento
dos usuários do SUS, mas tal não acontece porque, tanto na saúde quanto na
educação pública, a tese neoliberal da ineficiência estatal insiste em se
mostrar implacável e inquestionável. Será a mão invisível do mercado a responsável por esta realidade
ou ela é fruto da mão visível de agentes infiltrados dentro do governo?
Me impressiona o fato da ANS ser dirigida por um
colegiado de apenas cinco membros. Seu Diretor-Presidente é indicado pelo
Ministro da Saúde à Presidência da República e esta, ao acatar o nome, o
submete à aprovação do Senado. Maurício Ceschim, Diretor-Presidente na
aprovação da compra da AMIL, diz a imprensa, é amigo pessoal de longa data de
Edson Bueno, o mais novo brasileiro a entrar na lista dos homens mais ricos do
mundo. Como se vê, a eficiência e rapidez demonstrada pela ANS parece ter tido
uma boa dose de fraternidade de Ceschim para com Bueno, mas ambos, se
questionados, afirmarão que os princípios republicanos foram rigorosamente
observados.
O curioso é que Ceschim,
tão logo aprovou a operação, deixou o órgão. Dizem que isso se deu em
face do encerramento de seu mandato em 19 de novembro último. Todavia, se
desejasse, poderia ter pleiteado a
reeleição para continuar servindo ao país, mas não quis. Será que passado algum
tempinho veremos Ceschim prestando serviços à gigante americana que acaba de
entrar no país? Se o fizer, diz a lei, o fará em face da liberdade que tem para
exercer seus dotes conjuntos de executivo e médico. A UNITED já está anunciando
que pretende ter os brasileiros de baixa renda como seus clientes – pretende
ampliar ainda mais o lucro de seus acionistas. Para ela, saúde é uma mercadoria
muito lucrativa. Se precarizar a
prestação de seus serviços para garantir seus lucros, poderão os usuários
prejudicados culpar Ceschim por seus infortúnios? Todos sabemos a resposta,
principalmente o próprio Ceschim. Pode a saúde pública melhorar com tantos
interesses poderosos dependendo da permanência de sua precariedade? Deixo a
questão em aberto para que cada um responda por si mesmo.
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