O tempo passa e cada vez mais o sistema busca ocultar o verdadeiro Jesus: o histórico. |
Por Fernando Lobato_Historiador
As luzes
e as árvores enfeitadas anunciam que a noite de Natal está próxima,
ou seja,que se aproxima a noite em que se relembra e celebra o
nascimento do menino que Isaías assim profetizou: “O povo que
andava em trevas viu grande luz (…) porque tu quebraste o jugo que
pesava sobre eles, a vara que lhe feria os ombros e o cetro do seu
opressor (..) porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, o
governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será maravilhoso
conselheiro, Deus forte, pai da eternidade, príncipe da paz” -
trechos de Isaías 9:2-6-. Natal é, portanto, em face da promessa
de Deus, a data instituída para a celebração do nascimento daquele
que foi predestinado a ser o libertador dos judeus e do mundo das
trevas da ignorância e da opressão, ou melhor, de Jesus Cristo.
Celebrar o Natal ignorando aquele para o qual a data existe é o
mesmo que virar as costas e torcer o nariz para o sentido cristão
que nela está posto.
Os capitalistas, para ocultar ainda mais o Jesus Histórico, promovem Papai Noel.
Pelas
palavras de Isaías percebemos claramente que Jesus estava
predestinado ao trono dos judeus, ou seja, ao governo de seu povo. É
fato, porém, que não se assumiu como alguém disposto ao confronto
violento contra seus inimigos tal como fez o Rei Davi, o ancestral de
cuja linhagem ele estava predestinado a nascer. A mansidão e o
caráter pacífico de Jesus não significa, todavia, que ele era
alguém preocupado unicamente com as coisas do além ou do céu como
quer fazer crer a maioria dos líderes cristãos. Em várias
passagens do Novo Testamento vemos que ele não negava o sentido
também político de sua missão. Levado diante de Pilatos foi
acusado de subversão contra Roma por incitar os judeus a não pagar
tributos aos romanos, bem como por sua auto-proclamação como Rei dos
Judeus – Lucas 23:1-2-. Em outro momento diz a Pilatos que seu
reino só não era deste mundo porque não havia ninguém disposto a
construí-lo e confirma ter nascido para ser o rei dos judeus –
João 18:36-37-.
Os
interesses políticos dos ricos e poderosos, infelizmente, sepultaram
o Jesus histórico e as igrejas cristãs, para não contrariá-los, o
crucificam uma segunda vez quando apoiam tal prática. Esse Jesus
histórico, apesar do pouco que as escrituras revelam, não se
acovardava ou calava diante da corrupção e das injustiças
praticadas por autoridades e lideres de sua época. É célebre a
passagem em que ele expulsa os vendilhões do templo, ou seja, em que
bota pra quebrar pra cima dos que faziam da fé um grande negócio –
Mateus 21:12-13 – (imaginem o que ele faria com esses da
atualidade?). Em outra, trava um debate ríspido com a elite
sacerdotal sobre questões de autoridade – Mateus 21:23-27. E mais
adiante, atira-lhes na cara que as prostitutas e os corruptos
cobradores de impostos eram mais dignos que eles, visto que tinham
mais sensibidade e humildade para aceitar as palavras de
arrependimento que João Batista pregava – Mateus 21:31-32- . Não
é de estranhar, portanto, que os influentes da época quisessem
vê-lo pregado na cruz e tudo indica que a eleição em que Barrabás
o venceu foi, assim como as de hoje, determinada pelo poder econômico
dos que financiaram a campanha do seu concorrente – Mateus
27:15-26.
Mais de
2.000 anos depois de seu nascimento, Jesus permanece um grande
desconhecido para muitos dos que, inclusive, se dizem seus seguidores
ou representantes. Deve ser por isso que, em Mateus 7:22-23, está
profetizado que, no dia do juízo, muitos chegarão até ele
acreditando-se cristãos fiéis e leais e dele ouvirão o seguinte:
“nunca vos conheci, apartai-vos de mim vós que praticais a
iniquidade”. O Jesus histórico não era de modo algum um homem
preocupado em ser politicamente correto ou em falar apenas aquilo que
o povo gostava de ouvir. Seu compromisso era com a verdade de Deus da
qual se acreditava porta-voz. Era um homem que não via na sua
crucificação na cruz a consumação da profecia gloriosa de Isaías
e, ao mesmo tempo, duvidava que assim cumpriria a vontade de Deus.
Eis porque, em Marcos 14:36, pede ao pai que o destino na cruz fosse
modificado. A tradição religiosa, no entanto, interpreta essa
passagem como um momento de fraqueza por conta de sua condição
humana, ou seja, que o Deus encarnado que ela prega, na hora H,
fraquejou por temer a morte. Penso eu que isto é mais um insulto que
praticam contra o Jesus histórico, pois inúmeros homens ao longo
da História se mantiveram firmes mesmo na hora do suplicio. Jesus
não temia a morte ou o suplício, apenas não se conformava com sua
partida com apenas três anos de vida pública, pois queria continuar
a luta em favor da utopia que pregava – O REINO DOS CÉUS NA TERRA.
Celebrar
o Natal é, portanto, celebrar a utopia de um mundo de justiça, paz
e amor para todos. Não há paz sem o alicerce da justiça e não há
verdadeiro amor fraternal sem os pilares da paz. Eis porque, em
Mateus 5:6 , está dito que bem aventurados são os que tem sede de
justiça, pois, no Reino de Deus, serão fartamente saciados. Sendo
assim, não há como negar o caráter anticristão do Natal forjado pelos
interesses do capitalismo. Um Natal que omite o sentido da missão
histórica de Jesus e que o concebe como um momento imperdível para
a gastança e a comilança desenfreada e sem sentido. Um Natal sem
alma e bem condizente com a moral burguesa que destrói o mundo
globalizado da atualidade. Mundo em que mais de um bilhão de seres
humanos passam fome diariamente, entre outros motivos, por conta dos
boicotes à disseminação de conhecimentos e tecnologias, muitas
delas bem baratas, aos países pobres ou subdesenvolvidos. Celebremos
o Natal, mas incorporemos em nós o espírito do Jesus histórico, ou
melhor, um espírito de responsabilidade e compromisso com a
construção de um mundo melhor para todos do ainda lindo planeta
azul em que habitamos. FELIZ NATAL!!!
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