O fazendeiro dos bois de "ouro", a sucessão no Senado e a independência que ainda não veio

Renan Calheiros, o fazendeiro dos bois de "ouro", deverá substituir Sarney na Capitania Hereditária chamada Senado Federal.
Por Fernando Lobato_Historiador
    O Grito do Ipiranga de 1822 é o principal marco histórico do fim dos nossos laços coloniais com Portugal, mas não de nossa submissão como coletividade, visto que a Inglaterra logo assumiu a nossa tutela, não sem antes nos impor o pagamento de uma enorme soma aos portugueses como forma de indenização pela perda de sua mais importante colônia. Pagamento que a elite brasileira jogou nas costas dos escravos negros que, por mais de 65 longos anos, continuaram sustentando a nossa economia agroexportadora. Se alguma independência ou melhoria de vida aconteceu após o 7 de setembro de 1822, tal se deu para quem tinha terra e escravos para explorar, pois a vida, para o restante, seguiu do mesmo jeito ou até pior que antes e esta é uma das marcas de nossa História: mudar a cara do poder mantendo tudo ou quase tudo do mesmo jeito.
   Faço esse resgate do passado para falar da sucessão na Presidência do Senado do próximo dia 01 de fevereiro quando Sarney, pelo que tudo indica, dará o lugar a Renan Calheiros. Renan é o fazendeiro dos bois de “ouro” de 6 anos atrás, ou seja, é o mesmo que justificou seu patrimônio e gastos com a família e a então amante, a jornalista Mônica Veloso, com uma lucratividade fenomenal no comércio da carne bovina. Sua mirabolante contabilidade visava negar um possível esquema de repasse de dinheiro feito por empreiteiras para sua então amante. Naquela ocasião, nosso gênio no negócio da carne, se viu obrigado a renunciar à Presidência do Senado, mas “convenceu” seus colegas a absolvê-lo da denúncia de quebra do decoro parlamentar. Não será surpresa se, daqui a dois anos, se Dilma for reeleita, Sarney voltar a sucedê-lo, pois o bigodudo mais longevo da política nacional, junto com o fazendeiro dos bois de "ouro", são os homens de confiança do Planalto e do PMDB para continuar presidindo o Congresso.
     Qual será o fator determinante na confiança que estes dois personagens inspiram? Será a honestidade no trato com o erário? Com certeza não, pois são duas figuras de extensa folha corrida de casos mal explicados e de poeira jogada pra debaixo do tapete com o aval de figurões nas mais altas esferas do poder de nossa república ainda muito pouco pública. Será então a fidelidade? Muito provavelmente sim, mas de que fidelidade estaríamos falando? Com certeza não é de fidelidade conjugal, pois o caso de Renan com a jornalista Mônica Veloso mostrou que essa não é uma de suas virtudes. Fidelidade ao povo também sabemos que não é, a não ser se limitarmos a noção de povo aos inúmeros puxa-sacos e sangue-sugas que os defendem e protegem em troca dos favores que os coronéis oferecem pela lealdade de seus capangas e serviçais.

A elite brasileira continua vendo o Estado Brasileiro assim: como espaço a ser loteado e distribuído entre a "nobreza" do país.
    A fidelidade de que falo tem a ver com o modus operandi do estado brasileiro, marcado pelas relações de compadrio e de juras secretas feitas a portas fechadas diante de personagens com poder suficiente para puxar cordas importantes nas engrenagens principais de nossa vida econômica e institucional. Engrenagens que existem desde nosso tempo colonial e que garantem a boa vida de uma elite dependente da permanência de relações de senhorio e que teima em ver o estado como mera extensão da casa-grande. Para ela, é melhor o fim do mundo do que a vida num mundo governado pela senzala. Em face desse temor, continua a produzir e promover os Sarney e os Renan de nossa velha e velhaca política. As capitanias hereditárias, infelizmente, ainda persistem com seus donatários fiéis e nossa independência, entendida como ESTADO AUTÔNOMO e a serviço da maioria, ainda persiste como meta a ser conquistada.
      Até lá, continuarão a nos impor, goela abaixo, os Sarney e os Renan da vida. Mais lamentável do que isso são os vivas de euforia com a posse do Renan do PT, de Lula, de DILMA e do cara de pau do Zé Dirceu que, em matéria publicada no seu blog pessoal, disse que ter "veleidade de esquerda" é reconhecer o direito do PMDB de eleger o presidente da casa. Insubordinar-se contra isso seria, segundo nosso condenado ilustre, aliar-se à direita reacionária da qual jura ser inimigo mortal. Randolfe e o PSOL, por conta disso, seriam aliados do PSDB e do DEM.  Tal jura tem muita semelhança com sua insistência em teorizar que o mensalão foi tão somente uma ficção criada pela imprensa. É muita ou pouca cara de pau? digam vocês! Pior do que isso só a volta dos “modernos” e “competentes” capitâes donatários do PSDB (como escreve o Ribamar Bessa em sua coluna, VIXE, VIXE!)

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