Gurgel botou o preto no branco dos papéis que denunciaram e condenaram os mensaleiros que o Brasil espera ver na cadeia. |
Por Fernando Lobato_Historiador
A
tripartição dos poderes do estado tem como mérito a pretensão da
independência de papéis dos que, em tese, estão a serviço do
povo. Executivo, Legislativo e Judiciário são poderes que, direta
ou indiretamente, deveriam estar 100% subordinados a isso que, sob o
prisma democrático, é chamado de vontade da maioria ou vontade
popular. Mas o que é essa vontade para além do voto nas eleições
ou nos plebiscitos de tempos em tempos? Nos países onde há uma
sociedade civil forte, organizada e atuante, essa vontade é menos
refém da agenda dos que estão no poder e de vez em quando ela os
põe contra a parede de forma a não deixar dúvida sobre quem manda
em quem. Assistimos isso há 12 anos atrás na Argentina, quando a
bancarrota econômica do país, forçou o presidente, Fernando De la
Rua, a ser fiel ao nome diante da fúria popular. Naquela
oportunidade teve de fugir de helicóptero para as ruas de outro
país. De modo menos grave foi a situação do Governo Francês, em
2006, forçado, pela força das ruas, a revogar uma lei aprovada na
calada da noite para atender aos neoliberais do país – a
famigerada Lei do Primeiro Emprego.
Genoíno e sua conhecida cara de pau na posse como Deputado Federal já condenado pelo STF
Em nosso
Brasil, infelizmente, a voz que vem das ruas ainda não é capaz de
se impor de forma indiscutível sobre a conduta dos integrantes dos
três poderes, que, muito frequentemente, quando investidos em suas
funções, passam a se ver não mais sujeitos à lei, mas sim
flutuando acima dela. É assim com muitos prefeitos, governadores e
até presidentes da república e é assim também com vereadores,
deputados, juízes e desembargadores. É impressionante como, na
REPÚBLICA BRASILIS, o povo é subestimado e ignorado como agente
capaz de defender diretamente os seus interesses. Quem diz que
exagero preste atenção na arrogância e tranquilidade de José
Genoíno ao assumir uma cadeira na Câmara Federal na semana passada.
“Me sinto confortável”, disse ele, ignorando ou menosprezando o
fato de ser um condenado pela suprema instituição judiciária desse
país. O preto no branco dos papéis que o denunciaram e condenaram
parece não ter valor algum quer para ele quer para a Presidência da
Câmara que o empossou.
o preto relator - que honrou sua função - e o branco revisor - merecedor de um cartão vermelho de suas funções no STF
E o pior
disso tudo é que, no frigir dos ovos, Genoíno e Marco Maia estão
com a razão porque os ritos e os protocolos sem fim de nossa ordem
jurídica existem exatamente para lhes dar essa condição e a
consequente sensação de intocáveis. A mesma sensação demonstrou
o branco revisor do julgamento do mensalão ao confrontar a opinião
pública da nação e seus pares no STF, principalmente o
entendimento manifesto pelo preto relator do processo, objetivo e
claro em todo o julgamento. Penso que nunca dantes na História desse
país se viu tamanha flexibilidade e capacidade acrobática no uso do
poder discricionário garantido aos magistrados. Quero dizer aqui que
não sou de forma alguma contrário a permanência e continuidade de
tal discricionaridade, mas será que não deveria existir limites e
punições quando fica evidente o contorcionismo jurídico para fazer
real o que claramente parece fictício. Sim, porque a conclusão de
que o Tesoureiro do PT, Delúbio Soares, agiu sozinho como condutor
do núcleo político do mensalão, deixou boquiabertos até os mais
descrentes e desconfiados da atuação do revisor. Quando um juíz de
futebol erra feio numa partida importante fica na geladeira por um
bom tempo e o jogador, quando faz falta muito grave, leva um cartão
vermelho na hora. Será que nós, enquanto sociedade, não deveríamos
também ter o poder de dar um cartão vermelho nesses casos?
o Deputado Federal Natan Donadon, PMDB/RO, está condenado pelo STF desde 2010 e ainda não tem previsão de ser recolhido ao xadrez. Mal presságio para quem crê que os mensaleiros vão sentir o gosto da cadeia.
Sem
isso, nós, os que estamos debaixo da lei, vamos continuar sendo
ignorados e desrespeitados. Carlinhos Cachoeira, graças a um HABEAS
CORPUS, já está podendo novamente gozar e desfrutar dos milhões
desviados dos esquemas fraudulentos que montou ou foi instruído a
montar pelos comparsas que continuam a nos representar nos
parlamentos de Brasília e de várias partes do país. Todos já
sabíamos que tem um monte de ladrão nos representando, mas é duro
saber que alguns deles já foram descobertos, julgados e condenados,
mas ainda continuam nos representando na maior cara de pau. Natan
Donadon, do PMDB de Rondônia, é mais um desses exemplos
estapafúrdios de nossa realidade política e social. Está condenado
pelo STF desde de 2010 pelo desvio de 8,4 milhões da Assembléia
Legislativa daquele estado. Apesar disso, concorreu normalmente no
pleito desse mesmo ano e foi reeleito para o cargo de Deputado
Federal e lá permanece até hoje. Tudo porque ainda resta a
possibilidade de um novo recurso e o tal acordão condenatório ainda
não foi publicado. Se é assim com um caso de 2010, imagine quanto
tempo ainda vamos esperar para ver publicado o acordão dos
mensaleiros já condenados ?. E assim persiste a impunidade na terra
brasilis, terra onde cada vez mais se demonstra que o crime compensa,
principalmente quando o ladrão usa colarinho branco. Até quando ?
É meu camarada. O pior é que somos nós que elegemos esses picaretas. O mais incrível neste episódio do mensalão é o corporativismo dos petistas. Não consigo compreender como pessoas esclarecidas do nosso convívio conseguem negar o mensalão e apoiarem figuras como Genoíno e Dirceu. Penso que ideologia partidária não pode e não deve ser sinônimo de cegueira.
ResponderExcluirBela coluna, abraços
adilson