Por Fernando Lobato_Historiador
A Páscoa, na tradição
judaica, significa a passagem da escravidão do Egito para a liberdade da terra
prometida. No cristianismo, significa a passagem da morte para a vida, ou seja,
a ressurreição
de Jesus três dias depois da crucificação.
Páscoa tem, em face disso, um sentido ligado à noção
de coragem, determinação e senso de renúncia e sacrifício em favor de objetivo
nobres e mais elevados. Páscoa, dessa forma, não tem nada a ver com entrega
deliberada a determinados prazeres, ainda
que meramente gastronômicos. Na páscoa judaica, há a tradição dos pães
ázimos, ou seja, do consumo de pães sem fermento, fato que representa a
vivência de um tempo especial e diferente daquilo que é usual e comum. Tempo de
lembrar daquele que é o pai da vida, o criador. Tempo de relembrar e reforçar
os laços do humano com o espiritual. Como se vê, nada liga o desejo de comer ovos
de chocolate à tradição da Páscoa.
É
fato que o coelho lembra o atributo da fertilidade ou capacidade de reprodução da
vida e isso tem alguma relação com a ideia de ressurreição, mas coelho não bota
ovo e, se botasse, não seria de chocolate. Sendo assim, não há motivos para que
pessoas se desesperem para a compra de ovos de chocolate no dia da Páscoa. Não há
motivo nem para desespero e muito menos para adquirir dívidas que serão quitadas somente no início do próximo ano. Falo isso em função de propagandas que
induzem os consumidores a comprarem ovos para pagar em até 10 parcelas. Depois
da casa própria, do automóvel e dos eletrodomésticos ou equipamentos mais
sofisticados, chegou a vez dos ovos de páscoa financiados. Uma facilidade a
mais para que todos se endividem e ajudem a manter a lógica consumista que faz
a roda do capitalismo girar. Não sou e nunca serei contra o consumo que
proporciona bem estar e melhor qualidade de vida, sou crítico, isso sim, do consumo
por “obrigação”. Esse consumo gerado por puro modismo ou de forma mecânica e em
face do marketing que manda consumir por consumir. Páscoa e consumo desenfreado, nada a ver.
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