A ENERGIA QUE VEM DAS RUAS, OS JUDAS DA NAÇÃO E A LUTA CONTRA A PEC 37

Em seu pronunciamento do dia 20, Dilma falou na energia que vem das ruas.  É importante destacar  que esse despertar tem profunda relação com a lógica de governabilidade ancorada nos Judas da nação.

Por Fernando Lobato  Historiador

Os protestos que se intensificaram após o início  da Copa das Confederações demonstram que a História nem sempre é previsível. Nesse sentido, vale destacar o desapontamento de um governo que, arrogantemente, estava convicto da sua capacidade de manter as coisas dentro da previsibilidade. Fiel à lógica de que time que está ganhando não se mexe, manteve intacta a estrutura de loteamento e partilha fisiológica do poder que Lula ergueu para se reeleger após o desgaste produzido pelo mensalão. E assim, ministérios permaneceram controlados por partidos que, segundo a lógica de governabilidade petista, são fundamentais para a vitória de Dilma em 2014. Para ampliar e solidificar tal estrutura, novos ministérios foram criados e entregues até a partidos cujo apoio e lealdade ainda é duvidoso,  sendo este o caso do Ministério da Micro e Pequena Empresa, entregue ao PSD de Gilberto Kassab, aliado de José Serra do PSDB.
Indo além, o Planalto também renovou e reforçou a aliança quase matrimonial que o liga ao PMDB de Sarney, Collor, Renan Calheiros, Eduardo Braga, Romero Jucá e outros. Fruto dessa providência, apoiou a chefia peemedebista tanto da Câmara quanto do Senado. Neste último caso, apoiou a volta de Renan Calheiros para a presidência apesar da gritaria geral contra. Foi um tabefe na cara da sociedade brasileira, mas o planalto fingiu não ter nada com isso. Ignorou, mais uma vez, que  "boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção" e essa, por sinalé uma frase de 2009 do Senador Jarbas Vasconcelos, que é do próprio PMDB - ver matéria aqui. Até hoje Vasconcelos não foi desmentido por nenhum outro membro do partido. Em nome da tal “governabilidade” Lula, Dilma e o PT ignoraram o que disse Vasconcelos, mas meses depois dessa declaração, Lula disse que ninguém governa sem se aliançar com Judas - ver matéria aqui. Não ficou claro se falava especificamente do PMDB ou se usava a metáfora para todos os partidos da base aliada do governo. É fato , porém, que a metáfora também serviria para seu companheiro Zé Dirceu, pois, no auge da crise do mensalão,  em pronunciamento à nação, se declarou traído - ver vídeo no You Tube.
Se a fala de Lula nos revelou que a lógica petista de governar não abre mão da aliança com os Judas, os dados do processo do mensalão nos revelaram a existência de outros Judas imprescindíveis no setor privado. Ficou claro que o sistema político brasileiro não funciona sem os esquemas criminosos que transferem dinheiro público para os partidos aliados do governo. Ficou evidente que o esquema vem de longa data e que o PT não inovou, apenas se apropriou e deu novo verniz ao mesmo. O estapafúrdio disso tudo foi a percepção de que, depois de Lula se reeleger e bancar a eleição de Dilma,  tudo permaneceu como dantes no quartel de Abrantes.  Os escândalos sucessivos que derrubaram sete ministros de Dilma em seu primeiro ano de mandato demonstraram esse fato e, com a permanência destes ministérios nas mãos dos mesmos partidos dos demitidos, ficamos com a percepção de que Dilma não fez nenhuma faxina, apenas jogou a poeira pra  debaixo do tapete.

 As tarifas exorbitantes e a crescente precariedade no transporte público é outro caso revelador da existência de Judas aliançados também aos governos municipais e estaduais. Em sua fala à nação do último dia  20, Dilma disse que a energia que vem das ruas ajudará a fazer aquilo que as limitações políticas hoje não permitem - ver no You Tube Estaria falando dos Judas que atravancam a nação ? Se sim, a energia que vem das ruas exige o fim da “governabilidade” ancorada nesses Judas. Atender a exigência que vem das ruas, todavia,  significa uma mudança radical na forma como o governo vê a sociedade e encara a si mesmo.  Depois de tanto tempo aliançado aos Judas, pode ter solidificado uma relação sem mais possibilidade de ruptura. No momento, a previsibilidade histórica aponta nesta direção, posto que, através da PEC 37, quer garantir a proteção dos Judas imprescindíveis a tal governabilidade. A voz das ruas, felizmente, já se convenceu de que o Ministério Público não está no rol dos Judas e quer continuar a tê-lo do seu lado na luta contra eles. A luta contra a aprovação da PEC 37 torna-se, nesse momento, a luta mais importante. 

Comentários

  1. Bela análise. O grande problema é a dificuldade em distinguir quem é Judas e quem é governo. O governo vem comendo farelo há tanto tempo que já não consegue distinguir quem é o porco.
    Adilson

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