A panela de pressão, o pé de barro do estado neoliberal e a força do povo unido

A pressão que vem das ruas brasileiras tem produzido o mesmo efeito acima na ação de políticos, governantes e magistrados. É preciso, todavia, ficar atento para saber se a tal sensibilidade à voz das ruas não é outra forma de cozimento em banho maria.

Fernando Lobato_Historiador


Quem cozinha com frequência sabe da importância de uma boa panela de pressão. Sem ela, o feijão demora pra cozinhar e não amolece direito. No Brasil, até duas semanas atrás, nossa classe política, junto com o judiciário, sem receber muita pressão das ruas, operavam no ritmo de cozimento chamado BANHO-MARIA, pois tudo que fosse importante à coletividade ou que mexesse no interesse de poderosos, era “cozido” na água de uma panela sob fogo bem brando. Era nesse ritmo que se “cozinhava” a PEC do trabalho escravo, a proposta dos 10% do PIB para a educação, da Reforma Política e o envio para o xilindró dos deputados já condenados pelo STF e que continuam a nos representar na Câmara Federal.
No âmbito dos Executivos Municipais, destacamos a postura carrancuda e irredutível  de Fernando Haddad, prefeito petista de São Paulo, quando as primeiras manifestações exigindo a redução das tarifas de ônibus começaram a ocorrer. Na ocasião, dizia ser impossível qualquer redução, mas, quando a panela de pressão das ruas elevou a temperatura social, sua postura mudou da água para o vinho. Além de decretar a redução, sentou à mesa cortês e sorridente com as lideranças do Movimento Passe Livre, ou seja, com os que lutam por tarifa zero para estudantes e desempregados. Dias atrás, cancelou a licitação do transporte que estava prontinha para ocorrer e, além disso, criou um conselho municipal com participação popular para fiscalizar o setor. Essa medida comprova várias coisas. Primeiro, que uma panela de pressão é algo muito útil. Segundo, que havia indícios de mutreta na nova licitação e, por último, que podia ter criado o conselho antes das manifestações. Porque não criou ?
Ainda na questão do transporte coletivo urbano, aqui em Manaus, a tarifa que Arthur, em março, majorou para R$ 3,00, a partir de amanhã (01/07), voltará para os mesmos R$ 2,75 de antes do aumento.  Na ocasião, Arthur fez média dizendo que o aumento ficou bem abaixo dos R$ 3,50 reivindicado pelos empresários e que o valor era justo e se enquadrava dentro da planilha da prefeitura (ver aqui). Antes da nova redução, já havia reduzido a tarifa para R$ 2,90 antes do início das grandes mobilizações de rua que tomaram conta do país. Tomou essa medida em face da isenção de impostos (PIS, PASEP e COFINS) que o governo federal concedeu ao setor. Não sabemos, todavia, se essa isenção de impostos justificaria uma redução de apenas R$ 0,10, mas esse foi o cálculo efetuado pelos técnicos da prefeitura. (ver aqui). Depois do efeito panela de pressão a que me referi, Arthur, junto com o governador Omar Aziz e membros do Movimento Passe Livre de Manaus, posou diante de fotógrafos jornalísticos para anunciar a volta da tarifa para os R$ 2,75 (ver aqui). Apesar da nova redução, Manaus permanece como uma das tarifas mais altas do país.
   O que continua a nos chamar a atenção nessa ampla "sensibilidade" dos governantes à voz das ruas diz respeito ao fato de que, até agora, é o próprio povo que está bancando essas reduções de tarifas. No caso de Manaus, a redução de mais R$ 0,15 será integralmente bancada pelo governo estadual e pela prefeitura (ver aqui). Nenhum centavo de redução, até aqui, está vindo da parte de um empresariado também sensível a voz das ruas. Se assim é, temos fortes elementos para crer que reduções maiores são possíveis na hora que se abrir e decodificar os itens que formam a tal planilha de custo do setor. Já se fala, inclusive, que os governantes estariam sensíveis à implantação do PASSE LIVRE para estudantes e desempregados de todo o país. Fala-se num fundo público nacional para pagar essa conta, ou seja, a própria população. Antes que a proposta venha a se transformar em lei, seria de bom tom que governo e empresariado viessem a público prestar todos os esclarecimentos e pormenores acerca dessas planilhas. Sabemos que elas existem porque muito se fala nelas, mas, a partir de agora, gostaríamos de vê-las publicadas nos diários oficiais dos governos. Eis aí uma pauta interessante para os próximos protestos de rua. Se atendido, teremos certeza de que o ESTADO NEOLIBERAL tem mesmo pé de barro.







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