A vaia na Dilma, os protestos que ganham as ruas e a irresponsabilidade do projeto Copa no Brasil


Por Fernando Lobato_Historiador

Quando a imagem de Lula e Pelé abraçados e chorando copiosamente anunciava a conquista não de mais uma copa, mas do direito de sediar a de 2014,  estava entre aqueles que franziram a testa para a fanfarrice e evidente irresponsabilidade governamental que o ex-presidente estava praticando.  A fanfarrice se dava em face da fantasia vendida de um país que caminhava para o seleto clube dos mais ricos do mundo e que, em face da suposta prosperidade, podia se dar ao luxo de bancar uma copa em casa.  Seria o momento, dizia a fantasia,  de celebrar o nosso sucesso não mais como país do futuro, mas do presente, pois Lula fanfarronava o tal “espetáculo do crescimento”.
 Antes dele tivemos a fanfarronice do regime militar, que dizia, numa musiquinha dos anos 70, que este é um país que vai pra frente, mas, apesar dos índices de crescimento melhores que os de Lula, não cogitou tal irresponsabilidade. Em 1950, sediamos uma copa, mas era um Brasil que, pelo menos nas áreas urbanas, experimentava uma melhoria na qualidade geral de vida bastante significativa e os custos desse evento não eram tão estratosféricos como hoje - já descontado os superfaturamentos nas obras.  Por tudo isso, Lula foi irresponsável quando priorizou algo que não tinha a menor prioridade num país que regrediu socialmente durante a Ditadura Militar e que aumentou enormemente o seu passivo social. Um país que permaneceu agonizando e clamando, com urgência, por grandes investimentos em educação, saúde, moradia e infraestrutura, sobretudo, urbana, pois, de 50 pra cá, tivemos um dos maiores êxodos rurais do mundo.
A necessidade de apagar o mensalão e a frase EU NÃO SABIA da memória coletiva reforçou o desejo presidencial de patrocinar a irresponsabilidade que, ao mesmo tempo, serviria  como  trunfo a mais  para aquela que viria a sucedê-lo na cadeira presidencial.  No papel estava tudo muito bonitinho, educação, saúde e outras prioridades ficariam para depois, mas isso teria pouca importância para um povo que, quando a Copa chegasse, só iria querer saber de futebol, samba e carnaval.  Ficariam, dizia o script, admirados com a modernidade dos novos estádios e, como crianças diante do brinquedo desejado, se prenderiam a tese de que somos o país do futebol.  A Copa chegou, não a do mundo, mas a das Confederações, e a sensação que se estabeleceu e de que deixamos de ser o país do futebol  para assumir a condição de  PAÍS DOS PROTESTOS. Que bom se a vaia na Dilma tiver como significado o fato de que, apesar do tratamento infantil que nos tem sido dado, começamos a aprender a reagir não como crianças, mas como  adultos que somos.

Em vez de ficar deitado eternamente em berço esplêndido, o Brasil parece ter lembrado  que um bom filho jamais foge à luta. E a luta começou e parece que se prolongará. A luta contra a panaceia em que transformou a política oficial nesse país. Uma política feita para enrolar, enganar e continuar privilegiando aqueles que ficaram viciados em privilégios. Uma política pensada e executada não para mudar as coisas, mas para deixá-las do mesmo jeito em que sempre estiveram. Com uns se esbaldando em farras com champanhe finíssimos em Paris, enquanto a massa continua a ser espremida que nem laranja em ônibus e metrôs cada vez mais lotados para garantir o lucro abusivo dos que se associaram ao poder nas falcatruas e safadezas em contratos de cláusulas secretas entre o estado e os que ficam com a maior parte da bolada que arrecada. 
A PEC 37 já está na pauta de votação para dar mais garantias as tais promiscuidades com  aqueles que nutrem, com seu suor, essa máquina chamada ESTADO.  Tucanos e petistas estão assustados e cada vez mais iguais nos discursos e nas práticas neoliberais, basta atentar para a firmeza com que ALCKMIN e HADDAD  defendem a não redução das tarifas em São Paulo. Eles são representantes de quem mesmo?

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