A pedra, a Dívida Pública e o pedágio no meio do caminho

Depois das tarifas dos ônibus urbanos, os pedágios começam a assumir a condição de pedras no meio do caminho.

Por Fernando Lobato_Historiador

“No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho”.  A pedra que Carlos Drummond de Andrade cita não é pedra de construção, edificação ou pavimentação.  É pedra existente simplesmente para produzir o tropeço dos que andam descuidada ou apressadamente pelo caminho. É pedra que provoca a zanga e a revolta dos desafortunados que a encontram exatamente ali onde não deveria estar, ou seja, NO MEIO DO CAMINHO.  E por estar no meio do caminho, chama a atenção dos que passam por ele e, com o tempo, também o desejo e a vontade de fazê-la sumir ou desaparecer dali, pois se trata de algo incômodo, indesejado e que provoca dor e infelicidade aos que nela tropeçam rotineiramente.
Faço essa introdução para falar de duas enormes pedras que estão no caminho de milhões de brasileiros que cotidianamente nelas tropeçam em face da necessidade imperiosa de caminhar. Falo da Dívida Pública, que, anualmente, consome quase metade do Orçamento Federal e que é a causa maior do binômio aumento da carga tributária com permanência de baixos percentuais de investimento em áreas sensíveis e essenciais para a população, ou seja, em saúde, educação, etc. Falo ainda das oito cabines de pedágio que foram incendiadas na cidade de Cosmopolis/SP, pois o fato é um  indicativo a mais da crescente insatisfação popular contra o comprometimento do seu direito de ir e vir. Comprometimento que foi um dos carros chefes dos protestos de rua que tomaram conta do país nas últimas semanas e que resultaram na baixa geral das tarifas de ônibus urbanos país afora.
Falar da Dívida Pública como pedra no meio do caminho é algo muito natural quando nos deparamos com os dados e questionamentos  presentes no caderno de estudos produzido pelo Movimento Auditoria Cidadã da Dívida –  acessar o link aqui . Nele, na frieza reveladora dos números, constatamos que o gasto com educação, em 2011, foi mais de quinze vezes menor que o gasto com a Dívida Pública, ou seja, de pouco mais de R$ 46 contra R$ 708 bilhões (2,99% do orçamento). Toda essa montanha de dinheiro foi usada pagar uma dívida inscrita no nome de toda a nação com banqueiros e financistas que o governo sequer informa quem são e o quanto devemos a cada um deles.
Na CPI da Dívida Pública de 2009, da Câmara dos Deputados, membros da CPI ligados aos partidos tradicionais rejeitaram um requerimento em que se cobrava essa informação do governo e o Banco Central, pasmem, diz que não dispõe de tal informação. Enquanto a sociedade luta por um marco legal que obrigue o estado a investir um mínimo de 10% do PIB em Educação, o pagamento da Dívida Pública não possui um teto máximo de comprometimento das receitas e está plenamente garantido na letra b do inciso II do §3º do Art. 166 da Constituição Federal, bem como na Lei de Responsabilidade Fiscal e na Lei de Diretrizes Orçamentárias. Pelo que se observa, há um amplo guarda chuva jurídico-institucional garantindo a permanência dessa enorme pedra no caminho da nação brasileira. E ainda há aqueles que acreditam que somos uma nação soberana (independente).
Quanto à questão do incêndio de oito cabines de pedágio no trecho rodoviário que liga as cidades paulistas de Cosmopolis e Paulínia chama a atenção o gasto diário de R$ 13,60 dos moradores que se deslocam de carro entre as duas cidades. Quem tem moto, não faz o trecho sem desembolsar R$ 6,20 para ir e voltar. Não é correto enfrentar o problema queimando as cabines de pedágio, mas é óbvio que o fato desperta nossa atenção para as restrições ao direito de ir e vir que o estado, alegando a manjada desculpa da carência de recursos, acaba promovendo quando transfere o direito de manutenção e exploração de rodovias ao setor privado.  Há um pedágio no meio do caminho e, a julgar pelo número dos que existem na Região Sudeste e Sul, me parece que essa será a próxima pedra que muitos movimentos irão querer tirar da frente. O Estado Neoliberal tende a ficar ainda mais acuado e desmoralizado. A questão é: vai enfrentar a questão revendo suas práticas ou tratando a coisa como um mero caso de polícia. Se for assim, terão de triplicar o salário dos policiais dos Batalhões de Choque, pois, logo logo, estarão exaustos de tanto trabalho.

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