Por Fernando Lobato_Historiador
Quando as
caravelas de Pedro aportaram por estas bandas em 1500, começou a entrega dos
povos e recursos da futura nação Brasil aos interesses de um sistema político-econômico
em que a corrupção, já institucionalizada, ainda nem sequer tinha esse nome, pois
a privatização do espaço público era concebida como algo natural, posto que o
Estado estava longe da noção de uma estrutura a serviço do povo. Era uma estrutura a serviço do Rei e
de seus colaboradores mais fiéis, visto que impessoalidade, mérito e
competência ainda eram conceitos
estranhos no processo de ocupação dos espaços estatais.
E assim, com a
implantação das Capitanias Hereditárias e do Governo Geral do Brasil,
nossas veias foram abertas, conforme nos diz Eduardo Galeano, para a implantação
das sondas que passaram a alimentar um sistema capitalista ainda não dominante
mundialmente, mas já em franca expansão global. Quando Caminha escreveu a Dom Manuel I
informando que, nesta terra, em se plantando, tudo dá, não pensava no bem estar
ou qualidade de vida dos que aqui passariam a viver, mas na lucratividade dos
negócios necessários à expansão do tesouro real português.
Quase cinco
séculos depois ainda persiste a mesma lógica de privatização do espaço público,
mas a corrupção, pelo menos no papel, já não é algo tão natural, posto que o
Estado, também no papel, deve estar a serviço do interesse geral. No papel,
também está posto que o Estado, por ser
democrático e de direito, garante a todos o direito de defender e proteger o interesse público
contra ações irresponsáveis ou arbitrárias, ainda que cometidas por aqueles que,
também no papel, devem ser mais zelosos e responsáveis que a maioria no trato da
coisa pública.
Reunir numa praça ou via pública de forma
pacífica com o fim de protestar ou denunciar as irresponsabilidades ou
corrupção dos gestores públicos é um direito humano de primeira geração. Foi consagrado historicamente na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
ou seja, no documento dos revolucionários franceses de 1789. Desde então,
tornou-se ilegal ou ilegítimo, da parte dos governantes, o apelo à força policial
com o fim de negar ou inviabilizar esse direito. Nas grandes manifestações de
junho último, nosso povo não só demonstrou ser conhecedor desse direito, como disposto
a afirmá-lo e reafirmá-lo de forma frequente.
Surpresa,
assustada e colocada contra a parede, nossa elite política se esforça para
transmitir a tese de que ouviu e está buscando se adequar à voz das ruas. Quem
não é bobo, porém, sabe que se trata de um discurso artificial e enganoso que
visa ganhar tempo para a elaboração de
novos mecanismos de controle e cooptação das massas. É esse mesmo tempo quem dirá
se será bem sucedida ou não. Até o momento, continua a esquentar a chapa em que
nossos podres poderes estão postos. Cabral, que não é o Pedro de 1500, mas o
Sérgio de 2013, é a figura, por muitos e variados motivos, mais acossada pelo
cerco do GIGANTE DESPERTO.
Cabral procura
resistir ao máximo ao cerco que vê crescer contra si. Cerco que ele mesmo
estimulou com suas práticas políticas autoritárias. Na última pesquisa do
IBOPE, já aparece na lanterna da aprovação popular com apenas 12%. De longe, é
o governador pior avaliado. Na sequência, vem Marconi Perilo, PSDB, Tarso Genro, do PT, e Alckmin, do PSDB, com 21, 25% e 26% respectivamente. A condição de gerentes a serviço de um neoliberalismo cada vez mais insano e inconsequente vai cobrando sua fatura política e os manifestantes sabem que não é hora de baixar a guarda. É hora de forçá-los a uma rendição ou pelo menos deixá-los bem mal na foto com as revelações que eles tentam a todo custo ocultar do público, pois 2014 está bem aí e todos eles vão querer continuar como gestores da nossa desgraça coletiva.
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