As pirâmides do Egito, as razões de estado e a primeira arena-presídio do mundo

Foto da 1ª arena-presídio do mundo em construção. Os turistas do futuro terão muito que comentar e especular sobre ela.

Por Fernando Lobato_Historiador

A humanidade nasceu, diz a Bíblia, de Adão e Eva, mas a civilização foi obra, não tenho dúvida, da serpente que os enganou, ou seja, do DIABO. A História da Humanidade é, na verdade, a História da Desumanidade. Os historiadores, porém, chamam o tempo histórico de tempo da CIVILIZAÇÃO. É o tempo daquilo que entendem como VIDA SOCIAL CIVILIZADA. Dizem que o tempo que vem antes, a PRÉ-HISTÓRIA, teria sido marcado por UMA VIDA SOCIAL PRIMITIVA, RÚSTICA E PRECÁRIA. É bom destacar que, nessa tal vida primitiva, rústica e precária, os homens respiravam um ar puro – sem fumaça ou substâncias cancerígenas -, comiam frutos e raízes sadios – sem agrotóxico, pesticida ou conservante – e banhavam-se em rios de águas límpidas – sem pet ou plástico boiando e sem o dejeto do esgoto do condomínio que fica ao lado. Além disso, ignoravam a necessidade de emprego ou salário e o leão era apenas um bicho da fauna e não um imposto a mais pra pagar. Como diria o nosso filósofo ZECA PAGODINHO: DEIXAVAM A VIDA LHES LEVAR.
Nesse mundo pré-histórico ou “primitivo”, raciocino em minha história muito pouco fictícia, havia um grupo de homens (não eram ainda os homens do mensalão do PT  ou do PSDB) que achava que o mundo, ainda quase do jeitinho que Deus havia feito, era muito chato e desinteressante. Certo dia, eles foram até a serpente ou Diabo para que este lhes mostrasse um meio de tornar o mundo mais interessante (PRA ELES É CLARO!). E assim, vendo a serpente que aqueles homens reconheciam o seu valor, disse-lhes o seguinte: PRIMEIRAMENTE, NA CALADA DA NOITE, CRIEM UMA COISA CHAMADA ESTADO ou GOVERNO E FAÇAM DE TUDO PARA QUE O POVO NÃO INTERFIRA NO SEU FUNCIONAMENTO. EM SEGUNDO LUGAR, DIGAM AO POVO QUE O ESTADO EXISTE PARA O BEM GERAL E QUE, POR CONTA DISSO, TODOS, MENOS VOCÊS, É CLARO, PRECISAM CONTRIBUIR COM O PAGAMENTO DE UMA SÉRIE ENORME DE IMPOSTOS. TERCEIRO, DIGAM AO POVO QUE O ESTADO EXISTE PARA PROMOVER O PROGRESSO E QUE O PROGRESSO É ALGO QUE TODOS PRECISAM PARA VIVER COM ESPERANÇA.
Criado o estado e fundada a civilização do jeito que o capeta havia recomendado, iniciou-se a HISTÓRIA DA DESUMANIDADE E DO GASTO PÚBLICO SEM SENTIDO. No Egito Antigo, enormes pirâmides foram construídas com o sacrifício de milhares ou milhões de vidas – até hoje não se sabe o custo humano total -, para que os chefes de estado, ou seja, OS FARAÓS tivessem um lugar para repousar e descansar pela eternidade. Todavia, embora fruto do delírio de governantes que desejavam ser cultuados como deuses de carne e osso que um dia viveram na Terra, as pirâmides acabaram tendo um sentido prático para as eras seguintes: PASSARAM A SER OBJETOS DA CURIOSIDADE HISTÓRICA E, SOBRETUDO, DE TURISTAS VINDOS DO MUNDO INTEIRO. No fim das contas, apesar de toda a tragédia humana daqueles tempos, as pirâmides acabaram, para além das razões de estado de sua época, promovendo dividendos para os egípcios do presente, visto que um sem número de famílias depende delas para sobreviver.
Milhares de anos após a construção das pirâmides do Egito, no Brasil, mas especificamente na cidade de Manaus, razões de estado foram acionadas para construir uma faraônica ARENA ESPORTIVA. Um grupo de homens disse ao povo que a arena traria turistas do mundo inteiro e que muito dinheiro jorraria em terras manauaras. Junto com a arena viria também um tal de monotrilho e um tal de BRT e estes possibilitariam, a custo bem baixo, um confortável e rápido deslocamento da população de uma ponta a outra e de um lado ao outro da cidade. A pirâmide, ou melhor, a arena já está quase pronta, mas o problema é que, diferentemente das pirâmides de ontem, que aguardavam a morte do faraó para ter finalidade, precisa pra já de uma finalidade que justifique o seu enorme custo enorme numa suposta era de vigência da DEMOCRACIA. Eis porque, mais uma vez, razões de estado pressionam autoridades para dar-lhe um uso racional e aí surgiu a ideia de que, depois da Copa 2014, ela seja transformada numa ARENA-PRESÍDIO. A primeira arena-presídio de toda a Amazônia e, muito provavelmente, do mundo inteiro. Os dividendos que as pirâmides deixaram para os egípcios do presente nos serve de consolo. No futuro, é possível que gente do mundo inteiro nos visite para conhecer a “genialidade” administrativa de nossos “faraós”. Resta-nos apenas especular sobre como esses turistas do futuro irão avaliá-los. Dá pra arriscar um palpite?


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