O Tea Party, a fé burguesa e o deus mercado

O cartaz do manifestante diz o seguinte: O SOCIALISMO NÃO É UM VALOR AMERICANO. Obama, diante da crise aguda, é obrigado a relativizar esse dogma para evitar que a casa caia de vez. O TEA PARTY, porém, fiel a sua fé, considera isso uma heresia.

Por Fernando Lobato_Historiador



O TEA PARTY, Partido do Chá que pressiona OBAMA a não elevar o teto da dívida pública norte-americana, segue a fé burguesa original ignorando que política, religião e economia sempre andaram juntas e de mãos dadas sob a tutela não de um ser divino ou invisível, mas humano e visível ao qual se deu o nome de ESTADO. Foi assim no Egito dos faraós, na Roma dos Césares e na Europa Absolutista de alguns séculos atrás. A Revolução Gloriosa ou Inglesa (1689), A Independência dos EUA (1776) e a Revolução Francesa (1789) trouxeram, contra essa lógica, a rebeldia de uma burguesia que, a partir de então, passou a dar as cartas no jogo político. E assim, o estado não mais se intrometeria em questões religiosas ou econômicas e, quanto menor e menos ativo, maior seria a felicidade geral. O que as burguesias não disseram foi que, na nova conjuntura, o estado passaria à condição de ser tutelado tanto pela economia capitalista em processo de globalização quanto pela nova RELIGIÃO OFICIAL: DO DEUS MERCADO.
O Deus Mercado estabeleceu o mandamento do “LAISSEZ FAIRE, LAISSEZ PASSER, LÊ MONDE VA DE LUI MÊME” (deixe fazer, deixe passar, o mundo vai por si mesmo) que, ao ser traduzido pela filosofia ZECA PAGODINIANA, diz o seguinte: DEIXA O MERCADO NOS LEVAR. E o Deus mercado, um deus dito racional, produziu o imperialismo que descambou em duas guerras mundiais e deixou mais de 70 milhões de mortos. O Deus mercado produziu e continua a produzir um “milagre” na contramão da multiplicação dos pães e peixes feito por Jesus: QUANTO MAIS A RIQUEZA PRODUTIVA AUMENTA, AUMENTA TAMBÉM A MISÉRIA DA MAIORIA. O Deus mercado, através de profetas chamados ECONOMISTAS, disse que a terra prometida não ficava no campo e sim na cidade industrializada e o povão, por  vontade própria ou necessidade imperiosa, até hoje, continua migrando em sua direção.
A terra prometida vendida pelo Deus Mercado logo se encheu de demônios: o da violência urbana, do tráfico de drogas, da prostituição, da falta de moradias dignas, de saneamento básico, de educação e saúde pública e, principalmente, do pior de todos eles: o DESEMPREGO. Para afastar esse demônio terrível, deus mercado determinou uma DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Cada país se especializaria naquilo que oferecesse maiores vantagens comparativas. E assim, máquinas foram enviadas para diversos lugares do mundo em busca de matéria prima e mão de obra igualmente fartas e baratas. O demônio do desemprego, todavia, não desapareceu, mas se multiplicou por toda parte. O Deus mercado, zangado e pressionado pelos que deixavam de rezar em seu nome, chamou seu tutelado - o ESTADO - e decidiu autorizá-lo a adotar medidas para minimizar o inferno em que as grandes cidades se transformaram. Medidas que possibilitassem ao homem dito civilizado, mesmo sem dinheiro no bolso, o acesso à saúde, educação, moradia, alimentação, ou seja, boa parte daquilo que DEUS MERCADO não é capaz de atender.
Obama, como bom tutelado, atende a ordem dada por DEUS MERCADO diante da crise aguda, mas os beatos do TEA PARTY protestam e se rebelam contra a “heresia” de se aumentar a dívida pública para custear a saúde dos mais pobres, visto que, segundo sua fé, DEUS MERCADO TUDO RESOLVE E TUDO SATISFAZ POR SI MESMO. O estado, dizem os beatos, perverte e aliena os que não sabem enfrentar os demônios que o capitalismo produz. Para eles, só existe um amuleto capaz de afastar todos eles: O TRABALHO PRODUTIVO PARA O DEUS MERCADO. O grande problema é que DEUS MERCADO não consegue produzir ocupações para todos. Um grande número reza incansavelmente para que os ouça e atenda, mas ele continua surdo e impassível. Diante disso, fiéis vão abandonando a religião oficial da atualidade e começam a rezar para outros DEUSES. Outros, e aí estou incluso, entendem que é preciso libertar o estado da tutela do DEUS MERCADO. Para isso, é preciso que a política seja realmente democrática e não de fachada. 
Depois de liberto, o estado precisa ser repensado de forma a se tornar parceiro não apenas da democracia real, mas também de uma economia que consagre o valor e a dignidade humana e de uma religião que professe um único mandamento: AMA A TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO!!!

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