A Guerra Civil do Brasil, o nosso "tufão" social e a juventude na linha do tiro


Por Fernando Lobato_Historiador

Diz a lógica que a Síria está em Guerra Civil porque grupos armados se enfrentam contra e a favor do governo do Bashar Al Assad e o Brasil, tendo em vista o funcionamento de um governo que não enfrenta oposição armada, está em paz. Não é isso, porém, o que o Mapa da Violência 2013 divulgado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos mostra. Levando-se em conta os dados de 2010 sobre mortes causadas por armas de fogo chegamos facilmente à conclusão de que sim, somos um país em guerra civil. Uma guerra não contra o governo constituído, mas de todos contra todos. O Brasil, diferentemente das Filipinas, não foi afetado recentemente por nenhum supertufão, mas aqui há uma espécie de “tufão” social vitimando pessoas todos os dias da semana.
Em 2010, armas de fogo ceifaram a vida de quase 40.000 brasileiros. Se as vítimas do nosso trânsito selvagem fossem acrescentadas a essa estatística já trágica ficaríamos com a plena certeza de que nosso “tufão” é muito mais trágico e fatal que os Raiyans e Katrinas que vitimaram pessoas em outros países. Nosso “tufão” se faz presente de forma constante em muitos lugares ao mesmo tempo e o estado não produz ou cria mecanismos capazes de diminuir a sua fatalidade. O estado, a bem da verdade, é também um alimentador do poder desse “tufão”. O pedreiro Amarildo, por exemplo, sumiu sem deixar rastros e não entrará na estatística das vítimas de armas de fogo. Eis porque os números do estudo coordenado por Júlio Jacobo Waiselfisz assustam também pelo que não foi incluído por conta da metodologia adotada.

Nosso “tufão” vitima com furor parcelas sociais específicas. Vitima, sobretudo, a parcela jovem, de 15 a 29 anos. E dentro dessa parcela, vitima com mais furor ainda os de pele negra. Há, isso é inegável, um estereótipo do bandido impresso na mente não apenas das forças policiais, mas também na mente das pessoas comuns. Se um negro estiver dirigindo um carro de luxo, é bem provável que pouca gente imagine tratar-se de alguém dirigindo o próprio carro. Pobre sociedade a nossa, amplamente miscigenada e amplamente preconceituosa contra si mesma.  A desconfiança e o medo do outro bem ao lado imperam e o instinto de autoproteção constrói muros, cercas eletrificadas e muito mais. É preciso encontrar e abrir caminhos coletivos que nos protejam desse “tufão” que tanto choro provoca entre nós.

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