Mandela, Zé Dirceu e a tragédia de uma decadência

Mandela foi digno, a vida inteira, de ostentar o  punho cerrado. o Zé Dirceu atual, ao usá-lo, achincalhou e  tornou ainda mais decadente a já decadente imagem do PT.

Por Fernando Lobato_Historiador

Estava pronto para escrever sobre o autodenominado “Movimento de Resistência e Luta”, formado por petistas solidários a Zé Dirceu, Genoíno e Delúbio que, desde que estes foram presos, ostentam bandeiras, faixas e cartazes nas proximidades do STF, quando tomei conhecimento da passagem do líder Nelson Mandela para o outro plano. Inicialmente, pensei em fazer dois posts separados, mas, pensando melhor, percebi que era absolutamente necessário falar das duas coisas ao mesmo tempo. Mandela sai da vida física para entrar nas páginas de todos os livros de História que abordarão a segunda metade do Século XX. É um nome imprescindível para se entender o Imperialismo, a lógica da Guerra Fria e, sobretudo, a derrocada de um regime monstruoso que teimava em se manter de pé: o APARTHEID. Mandela, muito mais que um líder de esquerda, foi o líder de uma nação. Sua imagem evoca qualidades nobres e raras que fazem o mais pessimista dos homens  voltar a ter esperanças no futuro da humanidade. Sem entrar no mérito das comparações, não há como não inserir Mandela no mesmo grupo onde está MAHATMA GANDHI, o grande líder político e espiritual que libertou a Índía do imperialismo inglês.
Mandela se foi, mas renasce na mente e no coração de todos os sul-africanos que, para além da igualdade de direitos entre negros e brancos, precisam se unir no combate às desigualdades sociais que o sistema capitalista vai aprofundando naquele país. Essa, aliás, é uma guerra que Mandela não teve saúde suficiente para enfrentar, pois a pacificação e a estabilidade política eram prioritárias. E onde Zé Dirceu, Genoíno e Delúbio entram nesse post? Entram, exatamente, para serem mencionados como contraponto ao exemplo de Mandela. Mandela ficou preso  27 anos como prisioneiro político, pois, de fato, o era, visto que se engajou na luta armada contra o regime. Zé Dirceu ficou preso por alguns meses até ser um dos 14 que foram trocados pelo embaixador americano Charles Elbrick. Genoíno esteve na Guerrilha do Araguaia e, coisa raríssima, saiu vivo dela para depois cumprir 5 anos de prisão como preso político. Sem o mensalão, suas biografias não seriam, obviamente, tão respeitadas como a de Mandela, mas, ainda assim, serviriam exemplos de vida em prol de um ideal.
O “Movimento de Resistência e Luta”, conforme previ no post de 18 de novembro (ver aqui), vende a tese de que os Zé Dirceu, Genoíno e Delúbio de hoje são presos do mesmo tipo que foi MANDELA. Num cartaz, a imagem dos três está estampada com os punhos fechados para o ar e, logo abaixo dela, está escrito “MOVIMENTO DE RESISTÊNCIA E LUTA”. Resistência e luta contra o quê? Só se for contra uma das ações em que a Justiça Brasileira tenta fazer alguma justiça, ainda que de forma HIPÓCRITA, pois sabemos que o mensalão não apenas persiste como é algo bem antigo em nossa realidade política. É trágico ver o uso de um símbolo de resistência – os punhos fechados – sendo usado de forma tão leviana e imprópria. Zé Dirceu, Genoíno e Delúbio estão presos porque fizeram igual ou pior que aqueles que, no passado, chamavam de corruptos e aos quais, depois, se aliaram. Uniram-se a bandidagem, mas não aceitam a pecha de bandidos porque, no Brasil, há a tradição de que bandido do colarinho branco não merece ser chamado dessa forma e, quando preso, tem de fazer jus a todas as mordomias possíveis.
A grande tragédia de um PT decadente é o desencanto e decepção que produziu e produz em muita gente que acha que não vale a pena lutar por nada mais.  A realidade, porém, exige, apesar do enorme desencanto e decepção, a construção de novas alternativas. AVANTE BRASIL!!!

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