O incêndio, o rojão e a grande questão: a quem interessa a violência nos protestos?



Por Fernando Lobato_Historiador

Era uma vez uma nação tentando construir uma democracia depois de tanto tempo de autoritarismo. Nela, vivia uma elite insatisfeita com os novos tempos, quer por não admitir sua culpa pela ruína da nação quer pela convicção crescentemente socialista que o povo assimilava. Povo que não queria apenas democracia, mas também a divisão das riquezas e uma vida melhor para todos. A elite acuada aguardava uma chance para por abaixo a democracia em construção para  restabelecer o autoritarismo de antes. Essa nação vivia o ano de 1933 e seu nome era Alemanha. Nela, um chanceler ou 1º ministro, patrocinado por essa elite angustiada, estava há um mês no cargo e seu nome é bem conhecido: ADOLF HITLER. De repente, um grande incêndio destrói completamente a sede do governo, o REICSHTAGG, e um jovem desempregado é acusado e logo confessa a autoria do feito.
A imprensa, acompanhando de perto as investigações, noticia que o jovem era adepto do comunismo e que sua ação fora motivada pelo descontentamento de ver Hitler no cargo mais alto da nação. Hitler, posando de vítima, afirma que a ação não foi isolada, mas tramada pelo Partido Comunista da Alemanha. Às pressas é redigido um decreto dando a ele plenos poderes para “proteger” o povo e garantir a “paz” e a “ordem”. A “proteção” do povo e a garantia da “paz” e da “ordem” sabemos como se deu:  com a prisão, tortura e assassinato de todos aqueles sobre os quais recaiu a culpa pela ruína da Alemanha, principalmente, sobre os judeus e os que se identificavam com o socialismo, apesar da palavra estar presente na sigla do próprio partido de Hitler. O socialismo estava tão em alta que a extrema direita não tinha como se apresentar sem reivindicar alguns de seus princípios. A História é mesmo surpreendente e importantíssima para nos ensinar grandes lições.
Brasil, Rio de Janeiro, terra do samba, do futebol e do carnaval. Pátria sem nenhuma gentileza com seus filhos comuns, apesar do Hino. Pátria que, aos poucos, aprende a diferença entre o público e o privado. Diferença que nossa elite, culta e instruída, parece ainda não ter aprendido. Políticos, mídia, latifundiários, empresários, banqueiros e outros resistem à tentativa do povo de afirmar essa diferença. O povo diz que quer escola, hospital, estradas e segurança no padrão FIFA. A elite, indignada com a novidade, trama contra os novos tempos. Reclama que o povo tem o dever de celebrar a Copa 2014 no Brasil. Que a festa é somente do futebol e não da democracia. O povo, diz ela, deve demonstrar a sua alegria e felicidade ingênua de sempre, afinal, somos penta e Deus, apesar do papa argentino, é brasileiro.
A elite descontente e indignada com o que considera “ingratidão” do povo com um governo do qual se tornou-parceira e que, no seu entendimento, está fazendo as reformas sociais e econômicas necessárias percebe a proximidade da festa do futebol com grande temor da festa democrática que deve acompanhá-la e eis que, de repente, um rojão fatal atinge um pai de família cumprindo o seu ofício durante um protesto. Imagens, fotos, depoimentos, opiniões de especialistas e peritos apontam rapidamente os autores do fato trágico. A mídia, de forma insistente,  afirma que não há dúvida sobre os autores  e, logo em seguida, sugere que agiram influenciados por um destacado  parlamentar  socialista– Marcelo Freixo – do Partido Socialismo e Liberdade – O PSOL, um partido de importância central nos ventos democráticos que começam a soprar no país.
   O rojão fatal faz apressar o trâmite de uma LEI ANTITERROR para vigorar antes mesmo da COPA para inibir ou intimidar qualquer festa de cunho democrático. Os elementos do momento sugerem um fracasso na tentativa de incriminar Marcelo Freixo e o PSOL e, por conta disso, é possível sugerir que novas manobras serão tentadas para reaquecer ou fermentar a hipótese que a elite quer vender forçosamente à opinião pública. Convenhamos,  a violência nos protestos interessa somente aos que estão descontentes com os mesmos. Quanto mais pacíficos, maior a adesão do cidadão comum. Quanto maior a incidência de distúrbios e violência, menor a participação. Vem então a grande questão: A QUEM INTERESSA A VIOLÊNCIA NOS PROTESTOS?

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