A ameaça comunista como bode expiatório, os golpistas travestidos de democratas e o Golpe Militar de 64
Jango, de Sílvio Tendler, é um bom documentário para quem deseja conhecer um pouco mais sobre o Brasil de 54 a 64. Clique aqui e assista no You Tube. |
Por Fernando Lobato_Historiador
Nero culpou os
cristãos pelo incêndio que ele mesmo provocou em Roma e Hitler culpou os
judeus, quase dois mil anos depois, pela derrota alemã na 1ª Guerra Mundial. Bodes
expiatórios fazem parte da cena histórica há bastante tempo e, sempre que são
sacrificados, em vez de redenção coletiva, multiplicam pecados e pecadores. O
próprio Cristo foi vítima desse processo, pois foi crucificado em nome do
retorno da “paz e ordem” que ele quebrara com sua pregação de que o Reino do
Céu havia chegado para todos. No Brasil,
um dos bodes expiatórios mais utilizados é o da tal ameaça comunista.
Esse bode
expiatório foi utilizado, por exemplo, em 1937, através do famigerado Plano
Cohen e este justificou a implantação da Ditadura do Estado Novo. Comunistas,
junto com todo tipo de opositor - à esquerda ou à direita – foram obrigados a
conhecer os cárceres do regime. Regime ancorado no apoio incondicional do
Exército e dos setores empresarias que foram agraciados com vultosos
empréstimos e infraestrutura estatal para impulsionar seus negócios. Mais
tarde, em 1945, depois da volta da FEB da Europa, estes mesmos setores, não
totalmente é claro, abraçaram o grande tio do norte, o Tio Sam, e
proclamaram-se paladinos da liberdade e da democracia. Getúlio, igual a passe
de mágica, passou de redentor a bode expiatório e sobre ele foi jogada toda a
culpa pelos excessos do regime.
Quando retornou
à Presidência, em 1954, Vargas desagradou profundamente os paladinos da
liberdade e da democracia que o afastaram em 1945. Retornou porque foi avaliado
positivamente por suas realizações. E foi esse detalhe novo que o transformou,
subitamente, no mais novo agente do comunismo internacional. Getúlio, não mais um
ditador apoiado na força do Exército, mas um presidente popular estimado por
seu povo transformara-se numa grave ameaça à democracia e à liberdade e os
paladinos precisavam detê-lo. O povo, na tese desses paladinos, era uma espécie
de débil mental carecendo de auxílio e proteção. Proteção e auxílio em nome da
defesa de uma “democracia” livre da contaminação de todo e qualquer gérmen comunista.
O Golpe de 64
foi, portanto, a ação adiada por pelo menos três vezes do golpe planejado em 54.
O primeiro foi fruto do tiro que Getúlio deu no próprio peito. Já que fizeram
dele bode expiatório mais uma vez, decidiu ele mesmo se ofertar em sacrifício.
Esse ato de mudou tudo, pois, de carrasco, passou a vítima e os paladinos que
pediam sua renúncia foram vistos como realmente eram, ou seja, como GOLPISTAS. Sem
máscaras para ocultar suas faces, receberam um segundo contragolpe inesperado,
ou seja, de um marechal zeloso da legalidade: Henrique Teixeira Lott, então Ministro
da Guerra. E assim, Juscelino e Jango puderam tomar posse em 1955.
Nem é preciso
mencionar que Juscelino governou o tempo todo sob a acusação de estar aliado ao
comunismo internacional e, com isso, colocando o país em “grave e iminente
perigo”. Quando Jânio Quadros foi eleito pela UDN, os paladinos da liberdade e
da democracia festejaram muito a vitória de seu candidato. Todavia, quando
Jânio adotou uma postura de não alinhamento automático com o Tio Sam,
prejudicou interesses do império e ousou condecorar CHE GUEVARA foi duramente
enquadrado pelos paladinos. Jânio preferiu renunciar a ser tratado como marionete
e, com sua atitude, levou nossos paladinos à loucura quase total.
Por eles,
Jango, Vice-Presidente, “o pior de todos os comunistas”, nem sequer retornaria
ao Brasil, mas Brizola e sua Cadeia da Legalidade aplicaram-lhes mais um
contragolpe. Jango não apenas retornou ao Brasil como também sentou na cadeira
presidencial algemado pelo parlamentarismo. Quando o povo quebrou suas “algemas”,
nossos paladinos rasgaram as máscaras e empunharas as armas guardadas para a
ocasião. Tio Sam mandou vários navios de guerra para eventuais necessidades.
Não foram acionados porque Jango foi um estadista digno e honrado ao vetar uma
resistência que ceifaria a vida de milhares de inocentes. E assim, os paladinos
da liberdade e da democracia implantaram a Ditadura que, segundo eles, seria
implantada pelos comunistas quando estes chegassem ao poder.
Em
2014, o que me preocupa não é a repetição da mesma cantilena fajuta pelos
mesmos setores que implantaram a ditadura de 64. O que me preocupa é a falta de
conhecimento histórico de nosso povo. O clima e o contexto são outros, mas
nossos paladinos contam com a pouca memória popular para fatos além de 10 anos
atrás. O Golpe completará 50 anos em 2014 e os paladinos já conseguiram
reeditar as Marchas da Família com Deus em várias cidades. Todo cuidado com
eles é pouco!
Os militares esqueceram de confiscar as terras do Maior Latifundiário do Brasil, o degenerado João Goulart!
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