Por Fernando Lobato_Historiador
O mundo
caminha na direção do Socialismo com Democracia, disso não tenho a menor
dúvida. E afirmo isso não porque seja um lunático que crê na teleologia presente
na doutrina de Marx, mas porque não sou descrente da capacidade humana de
encontrar caminhos viáveis quando a História cria as suas encruzilhadas. E, ao
olharmos para o processo histórico de longa duração, veremos que meu otimismo
se justifica, pois o Estado, esse ser que Thomas Hobbes definiu como um
“Leviatã”, ou seja, como um monstro poderoso e necessário, nunca foi
democrático – nem mesmo na Grécia Antiga -, mas tem tudo para começar a ser.
Por nunca ter
sido democrático, o estado, portanto, nunca funcionou em função do interesse
coletivo, pois esse monstro, especializado no sugamento de impostos e energia
dos que efetivamente trabalham, sempre serviu e continua a servir aos
interesses de uma minoria que dele se apropria para fazer valer, na marra e com
muita truculência, os seus interesses egoístas. Mas, apesar disso, o feto da
democracia começou a ser gestado lá por meados do Século XIX, quando as
barricadas na Europa anunciavam a falência e a derrocada final dos regimes
absolutistas monárquicos.
Os reis
perdiam as suas coroas e o povo começava, finalmente, a mostrar-se como ator
político concreto. A forma de participação liberal foi um tipo de anestésico
dado para acalmar o desejo de liberdade e o povo, vítima desse anestésico,
acalmou-se por algum tempo. O anestésico acabou e, junto com ele, a calma e a
passividade da população, mas aí o capitalismo já havia triunfado mundialmente
e logo tratou de impedir a continuidade da gestação do feto chamado democracia.
As amarras na gestante, porém, não impediram que ele continuasse a crescer e
daí veio, por exemplo, o voto universal e as leis trabalhistas.
URSS, China,
Coréia do Norte, Vietnã e Cuba, o caso mais impressionante de todos, foram
frutos dessa gestação que ocorria em escala global. Em todos eles, depois de
promessas de amparo ao feto em gestação, deu-se prioridade à sobrevivência dos próprios
regimes. O fatídico disso foi que, sob a justificativa da sobrevivência da
utopia, foi declarada a necessidade do aborto do bebê democracia. O que isso
ensinou? Que nenhum governo é
confiável se não estiver refém da sociedade civil trabalhadora. Noam Chomsky,
de forma precisa, diz que a queda da URSS não foi a vitória do capitalismo, mas
do próprio socialismo.
O diabo –
acreditem ou não os materialistas convictos – tem mesmo muitas capas e
disfarces e a menos que o povo esteja amplamente educado sobre o sentido maior
e completo da palavra democracia, estará sempre sujeito a equívocos e enganos
muitas vezes desastrosos. Tal como os Hebreus escravos no Egito Antigo, a
humanidade tem dois caminhos diante de si: ou segue a rota por terra – mais
curta e rápida para a Canaã da liberdade – ou segue a trilha através do mar e
do deserto – muito mais longa e penosa. As duas levarão ao mesmo lugar: O
SOCIALISMO COM DEMOCRACIA – a terra onde mana leite e mel.
A primeira
trilha, embora curta e rápida, exige coragem e determinação maiores, pois
passam pela terra dos filisteus de hoje – grandes corporações capitalistas, neofascistas
e idiotas – no sentido grego - de vários matizes-. A segunda desvia-se
intencionalmente dos enfrentamentos mais duros e difíceis, mas impõe uma
caminhada longa e penosa. Essa é a trilha daqueles que dizem que o nascimento
do bebê democracia pode esperar mais um tempinho. Nesse tempinho, o diabo ganha
fôlego para soltar “serpentes de fogo” pelo deserto e a maior parte dos sonhos,
no fim das contas, acabam nele enterrados.
Moisés, apesar de sua determinação, acabou
enterrado no deserto que buscava vencer. Eis porque o nascimento da democracia
não deve mais tardar. Ela deve nascer, crescer e multiplicar-se pelo mundo
inteiro. Conforme assim se der, ruirão as muralhas capitalistas de Jérico –
essas muralhas invisíveis que separam os livres dos escravos de hoje -. Penso
que é sempre melhor trilhar o caminho
mais curto, apesar dos embates duros e difíceis. Os filisteus imperialistas de
hoje irão se colocar no caminho, mas a caravana há de passar. No Brasil, o PT acha
que seguiu a trilha longa, se for, o deserto e o diabo estão cobrando o seu preço.
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