A copa, a seleção e o Brasil que não irá aos estádios

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Por Fernando Lobato_Historiador

Vou começar esse post falando da paixão que tenho por futebol, principalmente, por partidas bem jogadas e disputadas em que os dois times atacam e defendem o tempo todo. Como todo bom brasileiro, irei torcer para que nossa seleção conquiste o Hexa e levante a taça mais uma vez. É bom que assim aconteça em face da carência que nosso povo tem de momentos de alegria, lazer e congraçamento.
Nessa copa, todavia, não vou vestir camisa verde e amarela, soltar fogos ou gritar feito louco diante da TV. Quando for possível, vou assistir não apenas os jogos do Brasil, mas também das seleções que jogam um futebol bonito de se ver, tais como a Espanha, Holanda, Argentina, Portugal e Alemanha. Se o Brasil ganhar, ótimo, se perder, não vou sofrer com isso. Esporte é esporte. Um dia se vence, noutro se perde e a vida segue.
Por mais que a Globo e o Galvão Bueno me bombardeiem de estímulos para que fique em transe hipnótico ao ver a seleção jogar, isso não acontece e fico feliz que assim seja. Meu amor à pátria não é alienado e nem movido pelos interesses do mercado, de modo que se vier a abrir uma lata de SKIN e alguém me questionar, não vou responder por que sim como quer a propaganda, mas porque deu vontade de sentir o gosto da cerva, só isso.
Meu estado tranquilo poderá incomodar os que andam aflitos com o sucesso ou fracasso da seleção e muitos podem até me chamar de frio e desmotivado, mas prefiro isso à ilusão de achar que o futuro da nação está nos pés de Neymar e companhia. Meu estado tranquilo está relacionado ao fato dessa copa ser um mero evento esportivo. Um evento, por sinal, muito caro e salgado ao povo brasileiro, que gastou muito para ter quase nada.
O povo brasileiro, como um todo, pagou muito caro para que o mundial de futebol acontecesse aqui, mas a esmagadora maioria dele sequer chegará perto das arenas onde as estrelas da bola pisarão. Esse Brasil que não irá aos estádios, assistirá a copa nas telinhas ou nos telões espalhados pelo país. Para esses, será como se a copa estivesse sendo jogada na Inglaterra, nos EUA ou em qualquer outro lugar.
Há um imenso Brasil que não irá aos estádios, primeiro, em função dos preços abusivos cobrados pela máfia de nome FIFA. Máfia, pelo que se viu, com poder maior até do que a ONU. A ONU grita e fala muito, mas impõe muito pouco. A FIFA fala pouco e impõe muito e o Brasil, terra onde gringo manda e desmanda, vem sendo governado por ela há vários anos. Que bom que a copa começou. Daqui um mês ela acaba e o Brasil volta a pensar em si mesmo.
Esse imenso Brasil que não irá aos estádios é o mesmo Brasil que morre todos os dias vítima das balas perdidas da guerra entre a polícia e os bandidos de cara limpa que atuam nas periferias. O Brasil que não irá aos estádios, com copa ou sem copa, continuará morrendo nas filas de atendimento das UPAS e hospitais públicos. O Brasil que não irá aos estádios, por não ter acesso à educação de qualidade, muito provavelmente,  em outubro, votará nos mesmos picaretas que nos obrigaram a trazer a copa para cá.

Os picaretas trouxeram a copa para cá para ganhar rios de dinheiro junto com a máfia da FIFA. Ganharam rios de dinheiro, patrocinaram uma festa cara em que eles próprios serão os convidados de honra enquanto o povo, que pagou toda a festa,  irá participar dela como sempre participou: com o olho pregado na TV. Por isso, sempre que a seleção fizer um gol, vou comemorar como todo mundo, mas, no meu íntimo, estarei dizendo, VIVA A SELEÇÃO, CADEIA PARA OS VENDILHÕES DA PÁTRIA!

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