Os justiceiros, a bandidagem e as Eleições 2014

Os "justiceiros" são um instrumento a serviço não dos de baixo que vivem a violência no dia a dia, mas dos nazifascistas encastelados no poder. O campo de concentração dos dias atuais não precisa de cerca ou arame farpado porque as "leis" de mercado cumprem esse papel"

Por Fernando Lobato_Historiador


Raquel Sherazade, recentemente, causou polêmica ao defender a ação de justiceiros, ou seja, dessas pessoas que, na ânsia de dar vazão ao instinto violento que reprimem às duras penas, utilizam qualquer pretexto, até mesmo os mais banais, para agir em nome do que chamam de JUSTIÇA. Pessoas ainda num nível muito alto de animalidade e que, tal como tubarões, sentem longe o cheiro de sangue. A dona de casa do Guarujá espancada até a morte acusada de magia negra foi uma das vítimas recentes desse dantesco fenômeno que cresce e se amplia, sobretudo, nas zonas periféricas das grandes capitais brasileiras.
Eis porque me juntei aos críticos da jornalista do SBT. Penso que ela agiu com grave irresponsabilidade no exercício de sua profissão, pois não se combate incêndio jogando gasolina no fogo e foi isso, exatamente, que ela fez. O crescimento absurdo da violência que nos rodeia e assusta é fruto não exclusivamente da ausência do estado. Se fosse assim, o Rio, com suas UPP´S, já deveria ser um mar de tranquilidade.
A violência que campeia é fruto, sobretudo, do modelo neoliberal de cidade que nos é imposto goela abaixo pelas “leis de mercado”. “Leis” que estimulam o individualismo e o egoísmo ao extremo. “Leis” que agem contra o processo de humanização, pois não há humanização fora de uma dimensão coletiva saudável e fraterna. Tais “leis” agem não no sentido da comunhão, mas da segregação da sociedade em “guetos” classificados de acordo com a faixa de renda mensal das famílias.
O crescimento da ação dos justiceiros, é bom que se diga, não atende aos interesses dos desamparados pelo estado, mas sim dos que estão na cúpula do estado e não  pretendem usá-lo no combate de nossas mazelas sociais. Na lógica demoníaca desses nazifascistas governamentais, a disseminação da violência entre os de baixo cumpre um papel estratégico já predeterminado, ou seja, permite fazer um controle populacional não muito diferente daquele que Hitler implantou na Alemanha da 2ª Guerra. Na lógica atual, os campos de concentração não precisam de cercas de arame farpado, pois as leis de mercados e a ausência estatal acabam cumprindo esse papel.
A imagem de pessoas sendo cruelmente castigadas por “justiceiros” me agride profundamente não porque seja alguém comprometido com a defesa dos direitos humanos de bandidos. Esse é, por sinal, um discurso muito utilizado pelos nazifascistas da atualidade. Estou comprometido, isso sim, com o sonho da construção de uma sociedade saudável e fraterna, ou seja, pautada pela ética e moralidade cultivadas livremente por todos aqueles com os quais convivemos cotidianamente. Ética e moral como a do Aldo, um artista de rua de Manaus com o qual conversei hoje pela manhã.
Aldo pinta e decora bancos de praça de Manaus sem receber R$ 1,00 de ajuda governamental. Além disso, espalha frases delicadamente escritas em paredes e espaços sem vida ou sem cor. Age assim porque ama a cidade onde vive e faz disso uma espécie de terapia pessoal. Quando perguntei o motivo pelo qual não assina seus trabalhos. ele  me disse: DEUS NÃO ASSINOU NENHUMA DE SUAS OBRAS, PORQUE EU DEVERIA ASSINAR? Que belo ser humano é essa pessoa de nome Aldo que circula por Manaus quase sem ser percebida. É quando vejo tais pessoas que sinto que o mundo ainda tem jeito e que vale a pena continuar na luta para tentar pelo menos melhorá-lo.
Eis porque não devemos nutrir ódio visceral por aqueles que roubam galinhas, batem carteiras nas esquinas ou praticam o tráfico de drogas em pequena escala. Cada vez mais tenho convicção de que não são eles os maiores inimigos da sociedade. Eles, na prática, são um problema criado por monstros que estão num plano bem acima do deles. Os grandes vilões, os grandes bandidos, os sujeitos mais asquerosos e nojentos que existem, os maiores foras da lei, os delinquentes mais nefastos e perigosos, infelizmente, não estão nas cadeias ou são objeto da ação dos justiceiros defendidos por Raquel. Boa parte deles, infelizmente, quando iniciar a propaganda eleitoral na TV, vai pedir o seu voto para manter o mundo cão capitalista que lhes promove e favorece. Deve ser por isso que estou reticente em atender o apelo de amigos que me cobram um posicionamento se serei ou não candidato em 2014.

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