Por Fernando Lobato_Historiador
O Golpe de 64
foi feito, em grande medida, para impedir a ascensão política das classes civis
organizadas que vinha ocorrendo desde 1946. É importante que se diga, porém,
que o golpe também foi feito para impedir a crescente politização que ocorria
na base do estamento militar, ou seja, entre os praças das Forças Armadas.
Não foi por
acaso que o Golpe de 64 foi deflagrado dias depois do discurso de Goulart para uma
plateia de praças das FA. Desde então, é forte o cerco institucional contra
todo e qualquer militar que, após adentrar as fileiras, questione qualquer
coisa que seja.
O cerceamento
de direitos acabou em 88 para os civis, mas, para os militares, sobretudo,
praças, continuam em vigor através de uma constituição que lhes nega direitos
básicos da cidadania. O militar não tem direito a Habeas Corpus nas punições
disciplinares, não tem direito à sindicalização, não pode filiar-se a partido
político, não faz jus a uma série de direitos trabalhistas e somente pode
candidatar-se a cargo político depois de 10 anos de farda.
Apelar à
justiça para pleitear direitos legalmente previstos ainda enseja uma série de
restrições internas ao apelante, pois a cultura da caserna teima em achar que o
mundo militar deve ser opaco à cultura do meio civil. Mudar tal realidade exige
um debate no campo político que somente a eleição de representantes da base
militar é capaz de promover e incentivar.
As eleições do PM Platiny para Deputado Estadual no Amazonas e do Cabo bombeiro Daciolo para
Deputado Federal no Rio de Janeiro são, portanto, uma novidade das Eleições de
2014. No Amazonas, Platiny é o segundo PM a conquistar assento na
AL com o voto maciço da categoria. Cabo Maciel, eleito em 2010 com os votos da mesma associação, também renovou o mandato em 2014. No Amazonas, pelo menos, começa a nascer uma bancada
militar.
Daciolo, preso
em Bangu por liderar uma greve dos bombeiros do Rio, foi guindado por seus pares à
Câmara dos Deputados para botar pressão, entre outras coisas, na aprovação da
PEC 300. Entre os praças das FA, todavia, ainda é pequena a conscientização em
torno da importância da representaçãono parlamento, mas a eleição
de Daciolo tem tudo para despertá-los nesse sentido. É esperar pra ver!
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