O "perigo comunista" no Brasil, março de 64 e as questōes de março de 2015


Março de 1964 foi o mês das grandes mobilizaçōes contra e a favor de Goulart e o anticomunismo esteve na ordem do dia. Março de 2015 também promete ser um mês de grandes mobilizaçōes, mas a grande questão que me faço é: Qual será o seu conteúdo político?


Por Fernando Lobato_Historiador

Jango, no dia 13 de março de 1964, discursava à nação buscando mobilizá-la contra um Congresso Nacional conservador que brecava suas Reformas de Base. Na ocasião, assinou dois decretos dando início as suas reformas a partir das prerrogativas de um presidente que, depois do Plebiscito de 1963, governava nos marcos do presidencialismo: a desapropriação de terras às margens das rodovias e ferrovias federais e a nacionalização das refinarias de petróleo estrangeiras que atuavam no país (ver matéria).
Os decretos de um presidente tido como comunista desde 1954 por ter proposto o aumento de 100% do salário mínimo, acrescido da tentativa de mobilização contra aquele que nossas leis definem como legítimo representante do povo – O Congresso Nacional – foi o estopim das mobilizações seguintes que pediram o afastamento imediato de Jango pelas Forças Armadas em face de sua "intenção de transformar o Brasil numa nova Cuba".
Era preciso, diziam os manifestantes da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, deter o "facínora" que intencionava implantar uma ditadura comunista no Brasil e, com isso, subverter a ordem social vigente no país, ou seja, que pretendia mexer nos privilégios e mordomias das classes mais ricas, visto que, entre seus objetivos estava também a criação do Imposto Sobre Grandes Fortunas.
Curioso é notar que em países tidos como neoliberais, o IGF já existe há algum tempo, mas por aqui continua sendo visto como coisa de comunista. Mais recentemente, na França de François Hollande, os deputados aprovaram uma incidência de 75% sobre grandes fortunas e nem por isso os franceses, famosos por terem sido protagonistas da mãe de todas as revoluções, saíram às ruas taxando Hollande de comunista (ver matéria).
Querer mexer no bolso dos ricos, por aqui, é coisa de comunista, mas nossos ricos adoram meter a mão no bolso dos pobres. Defendem o apoio do BNDES para seus empreendimentos mesmo se declarando fervorosos defensores do NEOLIBERALISMO. Nossos parlamentares, a maioria pertencente às classes ricas, não aceitam regulamentar o IGF porque consideram o imposto extremamente injusto com os ricos, ou seja, com a maioria deles mesmos.
Ontem, todavia, tomei conhecimento de notícia dizendo que agora iremos também custear as passagens dos cônjuges dos parlamentares nos seus deslocamentos à Brasília, ou seja, eles se julgam no pleno direito de meter a mão no nosso bolso  sempre que acham necessário, mas acusam de comunista todos os que propõem medidas para mexer no bolso dos ricos e deles mesmos.
É a esse Congresso que os manifestantes de março de 2015 irão pedir apoio contra Dilma? Além do pedido de impeachment e do fim da corrupção, irão cobrar também a regulamentação do IGF? Cobrarão urgência na Reforma Política Pedirão o fim do financiamento privado nas campanhas eleitorais? Os manifestantes de 15 de março sairão às ruas em defesa do Brasil ou apenas para manifestar o seu sentimento anti-Dilma e anti PT?  Será que acham que Michel Temer será melhor presidente que Dilma? Gostaria muito de saber as respostas para essas e outras questōes. 

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