O tempo, o dinheiro e a máxima dos tiranos

Charles Chaplin, nesse filme genial, ironizou e ridicularizou
o tempo do qual foi um dos protagonistas mais conhecidos.

Por Fernando Lobato_Historiador

“Tempo é dinheiro” é uma das máximas bem conhecidas do capitalismo, mas, se isso é verdade, quem tem muito tempo disponível deveria ter também muito dinheiro para gastar, mas não é isso o que acontece com os que estão desempregados ou correndo atrás de um lugar dentro do sistema.  Pode-se argumentar que a máxima vale para aqueles que já estão inseridos, ou seja, que estão aplicando o seu tempo na produção de alguma coisa voltada para o mercado, mas é curioso também notar que a grande maioria dos que tem um emprego e, portanto, uma renda queixa-se de não possuir nem uma coisa nem outra. Não tem tempo porque o emprego consome a maior parte dele, assim como as energias físicas e mentais disponíveis e não tem dinheiro porque o salário recebido está quase sempre abaixo das necessidades que se precisa atender ou suprir.
Mesmo quem tem um salário elevado, ou seja, capaz de atender todas as suas necessidades e ainda deixar uma boa sobra para uma boa poupança reclama que tem dinheiro, mas não tem tempo para viajar com a família, jogar papo para o ar com os amigos, etc. Até mesmo grandes empresários, ou seja, a elite do sistema, também reclama que tempo é um bem cada vez mais escasso de modo que é inevitável questionar o seguinte: Quem é o grande vilão que monopolizou o tempo? Quem é que se apropria dele de forma egoísta? A resposta é: o próprio sistema capitalista. É somente para seu benefício que a máxima “tempo é dinheiro” é verdadeira, pois é ele que se apropria do tempo de produção das máquinas e dos trabalhadores, bem como do tempo gasto pelos planejadores e gerentes do sistema com o fim de fazê-lo cada vez mais eficiente, ou melhor, mais predatório.
O capital, portanto, surrupiou o tempo e o colocou a seu serviço, mas sua tirania não se limita a essa que é a sua face predatória menos visível.  Bem visível é a depredação do homem e da natureza. O homem é depredado, sobretudo, na sua condição humana, escravizado que é pela necessidade de adquirir papel pintado emitido por um banco central. Sem esse papel ou o equivalente a ele, a morte é quase uma certeza. “Ganhar dinheiro é preciso, viver não é preciso”, diz a máxima dos tiranos de hoje. A natureza, por sua vez, coitada, como não pode ir às ruas, protesta de outras formas. Ela chora copiosamente e emite gritos desesperados, mas os tiranos, como se fossem deuses e não homens, os ignoram completamente porque dizem não ter tempo para sentimentalismos ou assuntos banais. Tempo existe para se ganhar dinheiro, dizem de forma arrogante, e o resto é conversa fiada.  Será?

Comentários