Cunha, Gilmar e o jogo de cumpadre

Quando Gilmar Mendes era Presidente do STF, Joaquim Barbosa destemperou-se com ele acusando-o de estar destruindo a Justiça Brasileira. Com seu pedido de vista de mais de um ano, ele agora parece querer destruir de vez o nosso já combalido estado democrático de direito.


Por Fernando Lobato_Historiador


Montesquieu fracionou o poder de estado em três partes para que fossem independentes e harmônicos, mas Gilmar Mendes, Ministro do STF, com seu pedido de vista de mais de um ano, trocou o conceito de harmonia por um outro, ou seja, o do jogo de cumpadre.  A pressa de Eduardo Cunha para impor a reforma política que interessa ao PMDB e aos partidos tradicionais deixa evidente que o pedido de vista de Gilmar na ADIN que questiona a constitucionalidade das “doações” de empresas a partidos não se baseou numa dúvida ou dificuldade para concluir juízo sobre a matéria. Gilmar, pelo que as evidências apontam, parece agir de forma semelhante ao jogador que faz cera e catimba para que o jogo termine sem alteração no placar que beneficia seu time. E, pelo que se vê, o time dele joga contra todos os brasileiros.
O grande problema da ação de Gilmar está na parcialidade evidente de quem deveria se pautar pela mais estrita imparcialidade, principalmente numa questão de grande interesse público como é a questão do financiamento de campanhas eleitorais. Não é, todavia, a primeira vez que Gilmar é alvo de polêmica. Que o digam as pacientes estrupadas pelo  médico Roger Abdelmassih, condenado pela Justiça de São Paulo a 278 anos de prisão. As vítimas do médico rico e famoso não perdoam Gilmar pelo Habeas Corpus concedido e que acabou facilitando sua fuga do país. Em julho de 2008, quando exercia a Presidência do STF, foi também objeto de uma carta de repúdio de juízes e procuradores da República em face de um Habeas Corpus para o banqueiro Daniel Dantas, preso na Operação Satiagraha da PF. Na ocasião, procuradores e juízes o acusaram de afronta descarada ao estado democrático de direito (ver matéria).
        Gilmar ficou também bem conhecido dos brasileiros por ser, antes de Ricardo Lewandowski no julgamento do Mensalão, o rival de Joaquim Barbosa nas sessões do STF. Em certa ocasião, Joaquim Barbosa destemperou-se com Gilmar acusando-o de estar destruindo a justiça brasileira (ver vídeo acima). Pelo que se vê, a ficha de Gilmar Mendes é recheada de decisões que revoltaram muitos brasileiros. O ato político de Gilmar para garantir a edição de uma Emenda Constitucional que legalizará matéria que o STF já declarou inconstitucional é, com toda certeza, a pior e mais grave de todas as suas decisões. Se em 2008 ele foi acusado de afrontar o estado democrático com a soltura do banqueiro Daniel Dantas, com esta última ele parece querer destruir o pouco que ainda resta dele para consolidar de vez a plutocracia ou governo dos ricos no Brasil.  

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