O Brasil, a Dinamarca e o ciclismo que não mata

O vídeo diz tudo sobre os motivos pelos quais andar de bicicleta na Dinamarca não é colocar a vida permanentemente em risco.

Por Fernando Lobato_Historiador

A morte de dois ciclistas nos últimos dias – um no Rio e outro em Manaus - reforça ainda mais a tinta na pintura que retrata a nossa tragédia social. Tragédia que se verifica desde o início da colonização em 1530 e que, apesar de toda a modernidade cantada em prosa e verso desde 1930, insiste em ser o nosso retrato social, visto que, nas bandas de cá do Atlântico, a morte está sempre à espreita. Ela pode vir através de uma simples chuva, esse é o caso de Salvador nas últimas semanas, ou pode vir quando alguém pega uma bicicleta buscando desenvolver um estilo de vida mais saudável apesar do nosso ambiente social cada vez mais insalubre.
A Dinamarca não é aqui e, exatamente por isso, bicicleta por lá não mata e é uma companheira do dia a dia de extrema importância. Lá, o poder público, antes de planejar suas ações, ouve primeiro sua população e ela cobra cada vez mais ciclovias porque valoriza um estilo de vida saudável e em contato com a natureza.   Lá educação é prioridade número 1 e é totalmente gratuita da creche ao doutorado (ver matéria). Lá o cidadão paga mais impostos que no Brasil, mas ninguém reclama da carga tributária. Lá, mais da metade da população tem mestrado em alguma área porque um robusto sistema de seguridade social faz do país o menos desigual do mundo segundo relatório da ONU de 2014.
Bicicleta não mata na Dinamarca porque os mais ricos pagam bem mais impostos que os mais pobres e o governo investe maciçamente esses recursos na educação pública e na seguridade social (ver matéria aqui). Quando o estudante dinamarquês chega na universidade passa a receber uma bolsa de U$ 1.028,00 (cerca de R$ 3.500,00) para custeio dos estudos enquanto aqui os ricos pagam bem menos impostos do que os pobres e fazem uma gritaria danada contra as migalhas em forma de bolsa que tem sido distribuídas pelo governo aos indigentes de nosso país. Migalhas que servem basicamente para impedir que morram de fome num mundo que dispõe de tecnologia para alimentar várias vezes sua população mundial, mas sonega e controla o acesso a elas em nome do lucro e do poder das grandes corporações capitalistas.
Bicicleta na Dinamarca, portanto, não mata porque existem faixas largas e bem sinalizadas para a circulação segura dos ciclistas e os investimentos em educação, saúde e proteção social abrangem toda sua população de modo que ninguém precisa matar para ganhar dinheiro vendendo bicicletas num mercado negro. Bicicleta na Dinamarca não mata porque não há jovens fora da escola e porque mesmo quando alguém fica desempregado, algo raro nesse país, é assistido por até 2 anos com um seguro-desemprego de quase U$ 2.000,00 (cerca de R$ 6.000,00). Num país em que o governo cumpre adequadamente o seu papel e investe no seu maior bem, ou seja, no seu povo, há certeza de que bicicleta não mata. 

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