Por Fernando Lobato_Historiador
Diz o hino que
nossa pátria é mãe gentil. A pergunta que se faz é: PRA QUEM? Nunca foi para os
indígenas, cada vez mais acossados pela fúria da ganância do branco que tomou
suas terras e o escravizou e, hoje, através de Eduardo Cunha e outras bestas
feras, querem impor-lhe a PEC 215. Branco que sempre se disse cristão mas que,
ao contrário de seu mestre, adoram pregar os outros na cruz para que o
sacrifício destes se reverta na sua própria fortuna ou salvação. Nossa pátria
nunca foi também gentil para os negros, que aqui chegavam acorrentados e, por
mais de 350 anos, serviram como mãos, braços e pernas para o enriquecimento dos
brancos que os tratavam como máquinas imprescindíveis para o sustento e enriquecimento
nacional. Riqueza que produziram, mas que nunca tiveram a chance de dela se
beneficiar também.
“Livres” a
partir de 13 de maio de 1888, os últimos do mundo a ter esse direito, foram
preteridos do trabalho remunerado para que o processo de branqueamento
avançasse no país, o que implicava, portanto, reservá-lo para os imigrantes
europeus que aqui chegavam aos milhões, fugitivos de uma Europa que enriquecia
porque se industrializava rapidamente, mas que exportava a miséria, pasmem, para
países pobres ou não desenvolvidos como o Brasil. Diferentemente do índio, que tinha a mata
como refúgio, o negro “liberto” foi abrigar-se nas favelas que se formaram a
partir das migalhas que o capitalismo periférico produzia, sobretudo, em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.
Segregados no passado, segregados no presente, visto que jovens negros, se
vistos ocupando carros de cor branca, são tidos como assaltantes prontos para
agir e, portanto, alvo das metralhadoras do aparelho repressor do estado.
Roberto (16
anos), Carlos Eduardo (16 anos), Cleyton (18 anos), Wilton (20 anos) e Wesley Castro (25
anos) eram jovens negros que achavam ser
possível amadurecer e envelhecer na pátria mãe gentil brasileira. Não vão
amadurecer nem muito menos envelhecer porque nossa pátria está muito longe de
ser gentil com pobres, negros e indígenas. Ela é, sobretudo, cruel com os
filhos que nunca quis ter e, por isso, vai, progressivamente eliminando-os (veraqui). O objetivo atual não é mais o branqueamento do início do Século XX, mas
uma faxina étnica e social. A “racionalidade” de um capitalismo em crise impõe
medidas drásticas e semelhantes aquelas da solução final dos nazistas na
Alemanha de Hitler.
Não mais o
Aparthaid de antes, dizem os reaças de hoje. Isso, na ótica selvagem e desumana
que os guia, não dá mais certo porque, mais cedo ou mais tarde, os Nelsons
Mandelas e os Marther Luther Kings aparecem. Não mais aparthaid, a ordem da
bandeira se afirmou como a ordem do terror dos fascistas de hoje. Bandido bom é
bandido morto, eles dizem, sabendo de antemão que o estado só enxerga
delinqüência nos negros e pobres, apesar de hoje sabermos que os maiores criminosos do país estão presidindo empresas como a SAMARCO, nos gabinetes do Congresso Nacional ou acumulando fortunas no mercado financeiro. E assim, com a ordem do terror e o progresso da
violência estatal, os reaças vão reafirmando um país construído conforme sua
imagem e semelhança, ou seja, bem feio e triste de se ver.
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