A pátria mãe cruel, a ordem do terror e o progresso da faxina étnica e social


Roberto (16 anos), Carlos Eduardo (16 anos), Cleyton (18 anos),  Wilton (20 anos) e Wesley Castro (25 anos)  não vão envelhecer na pátria mãe cruel chamada Brasil: foram as últimas vítimas da faxina étnica e social em curso no país que está cada vez mais a cara dos reaças (bem feio e triste de se ver)

Por Fernando Lobato_Historiador

Diz o hino que nossa pátria é mãe gentil. A pergunta que se faz é: PRA QUEM? Nunca foi para os indígenas, cada vez mais acossados pela fúria da ganância do branco que tomou suas terras e o escravizou e, hoje, através de Eduardo Cunha e outras bestas feras, querem impor-lhe a PEC 215. Branco que sempre se disse cristão mas que, ao contrário de seu mestre, adoram pregar os outros na cruz para que o sacrifício destes se reverta na sua própria fortuna ou salvação. Nossa pátria nunca foi também gentil para os negros, que aqui chegavam acorrentados e, por mais de 350 anos, serviram como mãos, braços e pernas para o enriquecimento dos brancos que os tratavam como máquinas imprescindíveis para o sustento e enriquecimento nacional. Riqueza que produziram, mas que nunca tiveram a chance de dela se beneficiar também.
“Livres” a partir de 13 de maio de 1888, os últimos do mundo a ter esse direito, foram preteridos do trabalho remunerado para que o processo de branqueamento avançasse no país, o que implicava, portanto, reservá-lo para os imigrantes europeus que aqui chegavam aos milhões, fugitivos de uma Europa que enriquecia porque se industrializava rapidamente, mas que exportava a miséria, pasmem, para países pobres ou não desenvolvidos como o Brasil.  Diferentemente do índio, que tinha a mata como refúgio, o negro “liberto” foi abrigar-se nas favelas que se formaram a partir das migalhas que o capitalismo periférico produzia, sobretudo,  em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Segregados no passado, segregados no presente, visto que jovens negros, se vistos ocupando carros de cor branca, são tidos como assaltantes prontos para agir e, portanto, alvo das metralhadoras do aparelho repressor do estado. 
Roberto (16 anos), Carlos Eduardo (16 anos), Cleyton (18 anos),  Wilton (20 anos) e Wesley Castro (25 anos)  eram jovens negros que achavam ser possível amadurecer e envelhecer na pátria mãe gentil brasileira. Não vão amadurecer nem muito menos envelhecer porque nossa pátria está muito longe de ser gentil com pobres, negros e indígenas. Ela é, sobretudo, cruel com os filhos que nunca quis ter e, por isso, vai, progressivamente eliminando-os (veraqui). O objetivo atual não é mais o branqueamento do início do Século XX, mas uma faxina étnica e social. A “racionalidade” de um capitalismo em crise impõe medidas drásticas e semelhantes aquelas da solução final dos nazistas na Alemanha de Hitler.
       Não mais o Aparthaid de antes, dizem os reaças de hoje. Isso, na ótica selvagem e desumana que os guia, não dá mais certo porque, mais cedo ou mais tarde, os Nelsons Mandelas e os Marther Luther Kings aparecem. Não mais aparthaid, a ordem da bandeira se afirmou como a ordem do terror dos fascistas de hoje. Bandido bom é bandido morto, eles dizem, sabendo de antemão que o estado só enxerga delinqüência nos negros e pobres, apesar de hoje sabermos que  os maiores criminosos do país estão presidindo empresas como a SAMARCO, nos gabinetes do Congresso Nacional ou acumulando fortunas no mercado financeiro. E assim, com a ordem do terror e o progresso da violência estatal, os reaças vão reafirmando um país construído conforme sua imagem e semelhança, ou seja, bem feio e triste de se ver.

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