Por Fernando Lobato_Historiador
A História do
Brasil está muito mais para Pablo Picasso do que para Gustave Coubert, ou seja,
está muito mais para o surrealismo do que para o realismo. É surreal porque está cheia de fatos sem
lógica, estranhos e até absurdos. Começa com nossa inserção no capitalismo
internacional pela via do mercantilismo português, responsável por difundir a escravidão
num momento em que a Europa assalariava sua população. Para muitos, tratava-se
do verso de uma mesma moeda, ou seja, o
salário do europeu dependia da escravidão do índio e do negro nas Américas.
Nossa libertação
colonial, diferente do resto da América Latina, veio pelas mãos de um
representante do próprio colonizador, o Príncipe Pedro, que rompeu sem romper nossa
subordinação ao exterior – é surreal ou não uma ruptura sem ruptura total? -. E
assim, os “raios fúlgidos” de nossa liberdade, conforme diz o hino, não alcançaram
os negros, ou seja, “nossa liberdade” não representou liberdade para a grande
maioria de nosso povo – já se convenceu agora do surrealismo de nossa História?
-. Quando deixamos de ser monarquia, deixamos de ser pelas mãos de um
monarquista convicto, ou seja, pelo Marechal Deodoro da Fonseca – agora você já
não tem nenhuma dúvida do nosso surrealismo.
Veio Vargas,
em 1930, e a modernidade chegou excluindo o campo – outro caso surreal - e o
capitalismo deslanchou no Brasil. Vargas quis voar demais, mas teve suas asas
cortadas por quem as lhe deu, ou seja, pela cúpula do Exército – mais um caso
de surrealismo. Entre 1946 e 1964, o Brasil voltou a ser democracia sem ser de
fato – tem lógica uma coisa dessas? - para vê-la suspensa novamente, em 1964, a
mando dos EUA. Em 2002, depois de muitas idas e vindas, a esperança venceu o
medo com Lula para voltar a ser desesperança em 2006 com o mensalão e, agora,
com o petrolão.
O discurso anticorrupção
dos antipetistas é propagandeado intensamente pelos herdeiros dos corruptos que
antes sangraram nosso país com um nível de corrupção ainda maior, mas boa parte
do povo acredita que eles são o novo e a salvação da lavoura: É MOLE ?
E pra finalizar, chegamos ao impeachment de
Dilma pelas mãos de um presidente da Câmara que assumiu o cargo para barganhar
o escape da cadeia quando a investigação do petrolão avançasse. Governo e oposição
de direita cortejaram o mesmo bandido para obter dele o seu favor como se ele
fosse a mais singela e doce das donzelas. Ele, péssimo ator, atuou como aqueles
das novelas mexicanas, ou seja, sem esconder sua canastrice.
Onde vai dar
esse pedido de impeachment? Ainda não dá pra apostar as fichas com segurança,
mas suspeito que novos fatos virão pela frente, reais ou fabricados, para fragilizar ainda mais uma presidente em
estado terminal. A direita se assanha, já prevendo a posse de Temer, ou seja, a
entrega oficial do país ao partido que já o comanda há algum tempo. O PT, percebendo
esse desfecho, tenta descobrir a fórmula que o faça voltar a ser o que um dia
já foi: ético e comprometido com o combate a corrupção, tarefa mais difícil que
a contenção do mar de lama da Samarco.
Surreal e muito
parecida com novela mexicana, nossa história também pode ser definida com um
samba do crioulo doido.
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